sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Mais um dia de auto-controle (ficcional)

Ontem, como todos os outros dias, acordei com o despertador com seu grunhido característico, que mais parece um alarme para evacuar um prédio incendiado. Minha vontade era de quebrá-lo, jogá-lo pela parede e voltar a dormir, mas como sei de minhas obrigações (apesar de que não sei por que as tenho), apenas apertei o botão de desligar e levantei, fui direto para o chuveiro.

Tomei banho, meio ainda sem saber onde estava. Minha vontade era realmente de voltar a dormir, mas eu tenho autocontrole. A água na verdade não me incomoda, incomoda a falta dela, o meu chuveiro é um bocado vagabundo. Por um lado isso é bom porque economiza água, e até luz, pois afinal, temos que controlar também as finanças, e não só a nós mesmos, por outro lado a água só atinge uns 10 cm quadrados do meu corpo, e o restante fica congelando com o vento que passa pela janela quebrada.

Saindo fui tomar o meu café da manhã. Como sempre, e então comi meu rotineiro pão com gordura vegetal hidrogenada, vulgo margarina e meu café ralo. Minha vontade era de comer um baita de uma omelete com dois ovos, muito bacon e refrigerante, mas temos que nos controlar, afinal de contas, tem a história do colesterol, diabetes, celulites e nem sei mais o quê, além é claro das finanças. Contentei-me com o que tinha.

Terminei de fazer as mesmas coisas que faço todos os dias e fui pegar o ônibus para o trabalho, minha vontade nesta hora era de desistir de tudo, já faz anos que não tenho férias, e estou num emprego que odeio, sem falar no fato de que odeio a todos que trabalham comigo, principalmente o meu chefe arrogante. Mas como sempre faço, peguei o ônibus lotado e fui para o trabalho. Gosto de seguir sempre minha rotina e fazer as coisas como as planejo, a vida sem previsibilidade é assustadora.

No ônibus, pessoas com os piores perfumes, falando alto, sendo grossas. Minha vontade era de partir a cara de pelo menos 6, sentar no banco da frente reservado para idosos e ir sem que ninguém sequer olhasse para mim, mas como sou um homem civilizado, apenas prendi a respiração, não sentei nos lugares reservados para os idosos e fui para o fundo, disputar um lugar vazio para permanecer em pé. No próximo ponto entram 6, justamente 6 jovens que sentam nos lugares para idosos. Agora mais que nunca queria quebrar a cara de 6 pessoas, mas sou civilizado, lembram? A luta não era com eles, era comigo mesmo, logo fiz o que sei fazer de melhor, engoli minha raiva.

Chegando no serviço, dou bom dia a todos que mais odeio, sento na minha mesa, e cuido de toda a burocracia diária que prefiro não detalhar, já estou de saco cheio de tudo isso. Dos fatos no meu horário de serviço me recordo bem de dois. O primeiro foi a estagiária que não para de me dar bola, ela deve ter uns 22 anos e se oferece para mim em todas as oportunidades. Hoje por exemplo ela me chamou para um chope depois do trabalho, com um semblante pra lá de suspeito. Não sei o que ela vê em mim, mas só sei que meus instintos quase me obrigam a tomar uma atitude, porém, sou noivo e tenho que me controlar. Além do mais, um homem com minha idade, não ia pegar bem, certo?

O outro fato, foi um telefonema da minha noiva, ela me fez de gato e sapato no telefone por que não vou poder sair com ela no sábado, pois tenho que trabalhar. Minha vontade era de mandar ela para o inferno, mas como sou civilizado, apenas concordei sem alterar minha voz, pedi desculpas e ainda tenho que pensar numa forma de me redimir, talvez compre flores. Eu sei que não fiz nada de errado, mas não posso me comportar feito um bruto. E afinal de contas, já estamos juntos há tanto tempo, nosso casamento já está até marcado, mesmo estando de saco cheio dela e de tudo isso, não dá mais para terminar.

Depois disso tudo, que nem são tantas coisas assim, me lembro somente de ter chegado em casa, assistido o jornal, ter me masturbado pensando na estagiária, afinal de contas já fazem umas 5 semanas que não faço sexo com minha noiva e depois, fui dormir pra esperar o próximo dia.