terça-feira, 11 de novembro de 2008

Auto-panóptico

O 1984 está acontecendo, como Orwell temeu em sua distopia. Só que agora a teletela não é mais algo externo, nem uma iniciativa estatal, estamos nós mesmos instalando uma, em cada cantinho de nossa vida. Se na obra de Orwell a teletela servia para entreter e vigiar, a nossa teletela não funciona muito diferente. O seu novo nome é Internet (e qualquer dispositivo que dê acesso à rede).

As redes de relacionamento (pra brasileiro é orkut), blogs (como este), last.fm e centenas de outros mecanismos cumprem muito bem a função de espiões do cotidiano, e como já adiantei, o diferencial é que nós mesmos construímos esse monstro, nós estamos ávidos para entrar nesse panóptico.

É assustador pensar no quanto nos expomos. Estava de olho neste meu blog e vi o quanto de informação pessoal tem nele. Por aqui você pode saber o que ouço, onde trabalho, quais pessoas conheço, ver minhas fotos, até saber o que quero ganhar de aniversário. E o pior, vocês podem saber o que eu sinto, o que penso e quiçá conhecer as minhas angústias através de uns esparsos poemas.

Se pensarmos novamente na teletela, ela só captava imagem e voz, criamos um mecanismo muito mais avançado, muito mais sutil e meticuloso, e esta obra é pública, todos vocês participam.

E em troca de quê nos submetemos a isso? Tentamos vender nosso peixe (como Z. Bauman afirma em seu livro “Vida pra consumo”), ou quem sabe só queremos nos diferenciar? Quem sabe nos sentimos poderosos ao poder vigiar a todos e as vezes até nos esquecemos que também estamos sendo vigiados?

Qualquer sugestão é só postar um comentário. (Isso serve para todos os meus leitores imaginários)