segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O que é dor?

Freqüentemente tenho que caminhar em frente a um hospital de pronto socorro, e passando por lá eu me lembro de uma coisa que é óbvia, mas que se torna atormentador quando se é tão palpável: as pessoas sofrem.

Você deve estar pensando, só agora este egocêntrico percebeu isto? Não, o caso não é este, mas é que algumas cenas nos provocam sensações novas, abrem uma chave de memória, tocam um lugar diferente. Não existiu apenas uma cena que me provocou este alarde, e sim uma sucessão delas.

Primeiro, vejo alguém descendo do táxi. Era uma jovem mulher, ela estava encurvada, a dor estava clara em seu semblante. Ela vestia, muito provavelmente, a mesma roupa que usa para dormir, um pijama com pantufas. Ela poderia estar como eu, voltando de uma noite de diversão com os amigos, mas não, ela não consegue pensar em outra coisa, senão se livrar daquela dor que a atormenta. Essa cena, que na maioria das vezes me passaria despercebida aguçou ainda mais minha percepção. Em seguida vi uma senhora, de aproximadamente 60 anos, segurando em seu colo um bebê que provavelmente seria seu neto. Ele chorava incessantemente, e ela tentava o acalmar, mas de pouco adiantava. Nesse momento eu percebi que as pessoas sofrem, cada um com sua própria dor, com seu próprio desgosto, cada qual com seu sofrimento, mas a regra é o sofrimento.

Independente se a dor é física, se a dor é sentimental ou seja lá que outra dor possa existir, essa dor pode piorar, acredite. Por pior que esteja se sentindo, pode ficar pior, digo isso por experiência própria. Tendemos a valorizar nossa dor, muito além da dor dos outros, mas não podemos deixar de comparar nossa dor de agora com a dor de outros momentos, ou até mesmo vislumbrar um fato que nos causaria uma dor ainda maior do que a dor de agora.

O sentimento que senti foi deveras peculiar, poucas vezes o senti. Mas fatalmente, amanhã ele já será passado. De pouco importa o sofrimento dos outros, talvez amanhã eu perca o meu ônibus, ou quem sabe, minha camisa preferida esteja suja. Não sei dizer, mas um desses horríveis fatos que me causam sofrimento em breve irão suprimir essa empatia para com o sofrimento alheio. Há algo mais palpável e aterrorizador que o meu próprio sofrimento? Ele é menor do que o dos outros? Eu só posso dizer que não.