segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Deus e o Diabo na terra do cotidiano

Quando pré-adolescente eu gostava bastante de Legião Urbana, ouvi os CDs de cabo a rabo até um belo dia conhecer Nirvana. Comecei a ouvir e a pesquisar sobre a banda, cada dia de forma mais voraz, virei um fã de carteirinha. Aos poucos percebi que havia uma certa “filosofia musical” (coisa de adolescente) que não era compatível mais com Legião Urbana, e de repente via a Legião indo do céu ao inferno, a banda que eu adorava agora era alvo das minhas próprias críticas.

Este é só um exemplo pra caracterizar um comportamento que todos julgamos ser tipicamente adolescente. Claro que há as pessoas, que chamo de “água com açúcar”, que nunca foram fanáticas com uma banda e tampouco odiaram uma outra, não é dessas pessoas que eu estou falando. Permitam me dizer que esse tipo de gente para mim é desprezível, ou no mínimo incompatível com minhas escolhas. Além disso acho que o ódio e o amor são sentimentos complementares, alguém quem não odeia dificilmente vai amar e talvez a recíproca seja verdadeira, mesmo que se negue veemente. Talvez assim surja a apatia, quando se deixa de amar, ou se deixa de odiar.

Mas enfim, vamos voltar à dicotomia das bandas, ela serve para legitimar o título deste post. Todos nós (exceto os água com açúcar) lembramos dos nossos extremismos adolescentes, como negamos as estruturas sociais, como prometemos para nós e para todos ao redor que nunca faríamos certas coisas comuns e como quebramos a nossa cara ao entrarmos na fase adulta e seguir a cartela social a risca, como manda o script.

Então, já na fase adulta (onde em tese eu devo me encontrar) olhamos para trás e vemos o como éramos extremistas, ai pensamos: agora já amadureci, não caio mais nessa armadilha de extremismos. Uma pessoa madura tem que conseguir achar o meio termo.

Só que percebemos (ou ao menos percebo) que não é bem assim que acontece. Minha vida é feita de extremismos: bossa-nova e punk, baixo e guitarra, refrigerante e whisky, história e matemática, presenças e ausências, puritanismos e “junkienismos”. Mas ao contrário de muitos, acho que os extremismos são necessários, e tornam a vida mais apimentada. Esse negócio de aceitar qualquer coisa, de estar tudo bom, de cada um na sua, gosto não se discute e por aí vai não me convence. Acham que existiria Mozart, Burgess, ou Nietzsche se eles concordassem que cada um devia seguir o seu caminho? Nem é necessário dar minha opinião.

Porém, mesmo sendo uma das pessoas mais extremistas que já tomei nota, vejo que essa nossa tendência aos extremismos às vezes se torna patética. Como podemos de repente, odiar algo que amamos intensamente? Será que vivemos uma vida de mentiras sobrepostas, e que nada faz sentido, que apenas existe o agora, e que o passado é um verme que deve ser morto todo dia de manhã?

Essa é outra tendência demasiadamente humana, a de subjugar o passado, de ver com nossos olhos maduros e superiores um passado inocente, onde sempre fomos enganados pelas circunstâncias.

Isso pra mim não acontece, não há enganação, há dedicação, entrega em cada detalhe como se tudo ao meu redor estivesse envolto em uma atmosfera passional. As coisas que eram boas eram boas sim, basta lembrar da sensação de ouvir Nirvana ou até mesmo Legião Urbana. Aquele já preencheu minha vida, já me fez bem, e hoje tenho consciência que meu passado é quem construiu o meu presente e quem dará base pra meu futuro.

OK, post deveras brega e piegas. Tudo isso é só pra dizer que não trate o seu passado como se fosse um lixo que teve que passar, como se fosse uma vacina para todo o mal do mundo que está por vir. Lembre da sensação do momento, lembre que é bom sentir, e principalmente é bom viver apaixonadamente. E não seja água com açúcar, caso contrário você tem sérias chances de não conversar comigo (oh, como isso é importante! Hahaha).

Ah, última observação... Desculpe pelo o sermão de um desconhecido. Mas é que ultimamente eu estou com poucos amigos para dar conselhos. :)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Enfim, desisto

o pires então transborda

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Som e Fúria

Havia harmonia, havia a melodia
Mas quem se importa com música?
Havia versos, havia ritmo e rima
Mas poesia faz sentido?

Sem música, sem poesia
Apenas som, som e fúria

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Dois mundos, um eu.

Desde que li pela primeira vez o Demian de Hesse, não me esqueci mais de sua metáfora para os dois mundos existentes, que ele apresenta logo no primeiro capítulo. De um lado há o mundo de luzes alvas, do conforto e previsibilidade, de outro há o mundo das sombras, muitas vezes desconhecido, onde a existência do desconforto é latente.

O primeiro é algo que se aspira a maior parte do tempo, e muitas pessoas nem conseguem perceber o segundo. Na verdade há algo mais confortável do que um mundo onde só existam linhas retas, apenas luz, onde a esperança é tão forte que chega a ser palpável? (ao longo deste post esses mundos vão ficar mais inteligíveis para todos)

Hesse em sua obra chama atenção para o entrelaçamento que envolve esses dois mundos, como eles são próximos, como eles dialogam o tempo inteiro. Talvez seja nesse ponto que me faço divergir do autor. Em minha vida as coisas costumam ser como “aqua et oleu”, para mim não existe ponto de conexão entre estes dois mundos. Ou melhor, pode até ser que existam, as coisas sempre estão conectadas, mas não consigo viver estas duas experiências simultaneamente.

Essa minha dificuldade em viver em dois mundos ao mesmo tempo, faz com que eu viva intensamente cada experiência, faz com que eu chegue aos extremos, experiemente até as últimas consequências, ou no mínimo as penúltimas, pois a última às vezes não lhe permite experimentar uma próxima. :)

Desta forma, durante toda a minha vida eu fui um dos que apenas conheceu um lado da moeda, e o lado predominante sempre foi o das luzes. E nesse ponto o trocadilho é quase que indispensável, realmente eu sempre fui um bocado iluminista, um bocado racional, um bocado inocente sobre as várias possibilidades que a vida oferece. Isso me fez viver uma vida de conforto sem igual, por muito tempo.

Esse tipo de comportamento fez com que eu relacionasse minha experiência com a de Sinclair (narrador do livro). Enquanto Emil Sinclair afirma que o seu cândido mundo é constantemente bordeado pelo o mundo lúgubre, no meu caso é o contrário – meu mundo sombrio é constantemente bordeado pelo o claro. Para entender esse raciocinio é necesário que eu deixe duas coisas claras, em primeiro lugar não considero esse bordeamento uma interação entre os dois mundos, considero no máximo uma sobreposição em determinados momentos, como uma noite de chuva após um longo e escaldente dia de sol. Em segundo lugar, ao contrário do que pode parecer, não vivo a maior parte do tempo em um mundo sombrio, mas é só nele que o mundo claro pode interferir. Quando estou no mundo inocente, a inocência é plena, o mundo negro não ousa se aproximar de maneira furtiva.

Mas no final das contas eis o mundo negro que toma-me a vida, porém, antes de tudo é importante esclarecer mais um ponto sobre este mundo, o mundo negro não é ruim, e os adjetivos que venho utilizando ao longo do post não são pejorativos. Ele só causa desconforto, é imprevisivel, é muitas vezes impensado, a bússula não funciona dentro deste ambiente. Pense num mundo de trevas, onde você não consegue enxergar um palmo em frente aos seus olhos, é assim que me sinto. E tenho que assumir, isso não é ruim.

Porém, ao contrário do que vinha acontecendo, os insights de luz vêm me visitar a todo momento, a razão, a honra, a virtude e todas essas coisas inventadas ainda fazem parte de mim e seus símbolos ainda são forte como uma ferida aberta, me causam febre, me tiram o sono.

É estranho dizer isso, mas eis o que me incomoda, se agora não consigo ver onde piso por causa da escuridão, antes não conseguia enxergar por causa da forte luz que me cegava, e me dava um rumo a seguir, um rumo circular, sem sentido. Prefiro caminhar sem direção, do que na mesma direção de sempre. Mas de pouco adianta, falta-me coragem. Nietzsche já disse uma vez: “Mesmo o mais corajoso de nós raras vezes tem a coragem para o que realmente sabe”, é exatamente assim que me sinto.

Acho que estou passando por uma crise epistemológica interna, como a da pós-modernidade. A mundo de certezas vem caindo, a cada dia mais. Porém minhas ideologias estão nascendo, cada dia ficando maiores.

Não vou dar exemplos didáticos, como costumo fazer, sobre esses dois mundos, por dois motivos: 1 - se quiserem entender a metáfora de Hesse, leiam o primeiro capítulo de Demian; 2 – não vou expor minha luz e minhas sombras para vocês, nem lhes conheço ora bolas.

Por último, gostaria de terminar novamente com Nietzsche:
Como? Vocês escolhem a virtude e o peito estufado, e ao mesmo tempo olham furtivamente para as vantagens dos irrefletidos? - Mas com a virtude renuncia-se às vantagens.
Pois é, renuncio a virtude, murcho o meu peito e fico com as vantagens. Agora quero aprender a fechar meus olhos quando a luz tocar em minha ética, seja lá qual for. Fazer com que quando o calor cândido do mundo branco tocar minha consciência ela esteja morta, assim como todos esses símbolos que me empurraram goela abaixo durante toda a minha vida.

"A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo."

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Mudanças e permanências

Bem, minha vida é hoje uma coisa totalmente diferente de 1 ano atrás, porém algumas coisas por mais que se tente são difíceis de mudar. É quase uma estrutura, mas enfim, tudo isso para lembrar que o poema:

http://alexandreubaldo.blogspot.com/2008/08/cega-inocncia.html

Faz mais sentido agora do que quando foi escrito. E dessa vez agravado pelo o simples motivo de não dever fazer mais sentido, mas faz.

OK, esse post foi medíocre. =)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Painkillers for a new life

Antes de mais nada, esse é mais um tópico sobre a dor. Mas o importante é que o motivo da postagem é outro bem diverso.

Não raramente, costumo ter dores fortes e hoje foi um desses dias. Normalmente essas dores começam de madrugada e só percebo que não estou bem, quando acordo de um pesadelo. Nesses casos o motivo do pesadelo é a dor, o desconforto físico é quase sempre revertido em sofrimento psicológico.

Todos já devem ter passado por uma experiência parecida, algum incomodo físico que é revertido num sonho, numa situação surreal que reflete o desconforto físico. O mais comum é deitar em cima do braço e sonhar que o membro está sendo amputado, ou prender o pé em algum lugar e sonhar que alguém está te prendendo, enfim, algo que seja muito semelhante a atual situação do seu corpo.

No meu caso como são dores abdominais, daquelas que se diluem por seu corpo, que se misturam com outras sensações, você não sabe ao certo de onde vem, sabe que dói, sabe que é horrível, e só quer fazer passar. Que tipo de pesadelo uma dor dessas pode gerar?

Se eu tentasse imaginar um pesadelo deste tipo, sem nunca ter vivenciado, acho que não conseguiria, mas como vivencio isso posso tentar descrever. Esses pesadelos revelam os meus maiores medos, reconstroem fatos que me causariam o maior desconforto. Algo como imaginar o seu melhor amigo lhe aprontando uma puta sacanagem ou você sendo humilhado em público por um motivo qualquer. Mas acredite, os pesadelos tem detalhes sórdidos, e não adianta acordar e voltar a dormir, porque o pesadelo irá voltar, enquanto a dor existir o pesadelo vai te perseguir. Não é só isso, ele assume formas assustadoras, situações irreais que usam o argumento do ridículo para te convencer, um amontoado de hipérboles que em seu estado letárgico de sono e dor são aceitas como verdades absolutas. Ou seja, como se não bastasse a dor ainda vem o tormento psicológico, isso confirma a teoria de que desgraça pouca é bobagem.

Agora, finalmente podemos chegar ao motivo do tópico que não é a dor e sim os painkillers (analgésicos). Em meio a madrugada levantei como um zumbi procurando um, e achei. Aproximadamente 30 minutos depois de uma superdosagem já me sentia bem melhor, iria finalmente poder dormir sem dor, sem pesadelos. Mas a maior sensação de conforto é o pragmatismo dos medicamentos, você sabe exatamente o que tomar para acabar com cada dor. E a certeza é tão grande e reconfortante, que me faz pensar nos painkillers do cotidiano, as coisas que fazemos pra nos distrair, para tentar aplacar a dor da existência (dramático, não?).

Bem, não vou ficar dando exemplos didáticos como sempre costumo fazer, ao invés disso vou fazer uma comparação. O que queremos com medicamentos é parar de sentir, o motivo da dor continua lá, mas você quer simplesmente esquecê-la. Buscamos muitas distrações para nossa vida, e isso é fato. Não estou fazendo julgamento negativo de nossas distrações, é só mesmo uma comparação, mesmo porque não vejo nenhum mérito em ficar cultivando dor. Sofrer sem recompensa é muito cristão pra mim, é bom refletir, mas não tem nada de negativo em procurar alívio para nossos tormentos. O que eu mais quero é descobrir alguns novos “Painkillers for a new life”.

Been waiting for the night to fall
I knew that it would save us all
Now everything's dark
Keeps us from the stark reality

Been waiting for the night to fall
Now everything is bearable
And here in the still
All that you feel is tranquility