domingo, 18 de janeiro de 2009

Subindo degraus para saltar do alto

Basta observar um pouco para percebermos que quanto maior as expectativas maiores as decepções, não precisa de muito esforço para chegar a esse tipo de conclusão. Porém algo que me intriga é o que nos leva a criar as expectativas, ou porque nos sentimos tão mal quando as coisas não acontecem de acordo com nossos planos.

De qualquer forma, essa parece ser a lógica da vida, criarmos planos para alguns darem certo e outros darem errado, e nesse jogo de expectativas e decepções criamos nossas próprias novelas, e a arte cria seus dramas. Basta assistir um filme, ler um livro ou um quadrinho, ou qualquer coisa que o valha e você perceberá como o narrador cria a intriga, nos leva para o seu mundo, urde o roteiro forçando-nos a criar a expectativa certa (pelo menos essa é a expectativa do autor), no final ele pode atender essa expectativa ou dar uma reviravolta nos chocando e rompendo com nossa expectativa, e é claro, adoramos finais surpreendentes por mais tristes que sejam, todos adoramos uma boa surpresa. Mas também sabemos que é só um filme, e que depois esqueceremos tudo. 

Como estava falando, realmente essa nossa necessidade de criar expectativas me intriga, vou tentar fazer algo diferente nesse post, enumerando os possíveis motivos dessa necessidade e porque algumas soluções se frustram.

1 – O que são expectativas?

No meu ponto de vista são tentativas de por nossa capacidade de previsão em prática. Isso provavelmente acontece por, como Nietzsche afirmou, não sermos animais que esquecem. A nossa experiência vivida faz com que imaginemos que as coisas tendem a se repetir, é assim com um alimento, por exemplo, comemos algo que é horrível e esperamos que toda vez seja assim. É claro que esse é um exemplo demais simplório, mas prefiro usar estes genéricos para tentar não ser tão pessoal, pensem vocês mesmos nos seus exemplos, afinal já estou sendo didático até demais.

1.1 – O que mais nos leva a criar expectativas?

O convívio social faz com que queiramos copiar algumas trajetórias, ou ter a mesma sorte (ou azar) de certas pessoas. Isso é claramente uma generalização, mas somos mesmos generalizantes, não conseguimos pensar nas coisas com clareza sem sistematizar e tentar criar padrões, somos mesmo empíricos, acredito que nossa essência seja moderna e não pós-moderna.

Além disso, existe certa pressão para que seu comportamento seja padrão, as pessoas não esperam que você seja um desviante. Este fator pesa bastante e no final das contas a expectativa alheia acaba lhe obrigando a criar expectativas sobre sua trajetória padrão, suas conquistas devem condizer com o que a sociedade espera e admira.

Enfim, um bom exemplo para isso seria ter um amigo que conseguiu sua licença para dirigir ou passou no vestibular em uma faculdade disputada, a tendência é criarmos expectativas de fazer as mesmas coisas, além disso, esses exemplos são obviamente comportamentos padrões bem vistos pela sociedade o que nos força ainda mais a conseguir alcançar essas metas.

2.2 – O que frustra nossas expectativas?

Metas, isso também é um grande problema, pois parece mesmo fazer parte de nossa essência. Estamos sempre criando planos, não fazemos nada sem um objetivo traçado, somos feitos de segundas intenções, sempre pensando no próximo passo. E como num jogo, quando algo sai errado culpamos a nós mesmos, como se o erro não fosse o acaso e sim uma falha em nosso planejamento.

Acontece que são muitos fatores importantes, coisas acontecendo a todo o tempo, criamos nossos planos como se todos fossem peças de xadrez e como se a vontade dos outros fosse guiada por nossa própria vontade. Agora é que as coisas começam a me dar um nó.

Para ser sincero, sei e você também sabe que as pessoas são bem previsíveis a maior parte do tempo, e por isso acabam por satisfazer nossas expectativas muitas das vezes. Isso se deve aquele fato de seguirmos um comportamento padrão imposto e cobrado pela sociedade. Por outro lado, se não houvesse essa cobrança, e todos fizéssemos o que realmente desejássemos nos nossos anseios mais profundos, iríamos nos frustrar com as outras pessoas com muito mais freqüência, aliás, acho que esse é o pior tipo de frustração, uma vez que o sentimento de impotência, o orgulho ferido e uma série de outros sentimentos nos deixam com sensações físicas bem estranhas. 

Além de nos decepcionarmos freqüentemente por criar expectativas estúpidas, temos o péssimo hábito de criar expectativa nos outros, e fazemos isso intencionalmente. Quando prometemos algo, juramos ou até mesmo combinamos um programa, estamos apenas criando uma expectativa. É claro que isso é útil, uma vez que precisamos de um planejamento dos nossos dias, afinal, como disse, não conseguimos lidar com a imprevisibilidade. Mas acontece que muitas vezes temos que agir diferente do que prometemos, as vezes cedemos aos nossos ímpetos, contrariando as normas sociais e as expectativas das pessoas mais próximas a quem em tese deveríamos algumas explicações.

Bem, tudo isso parece muito confuso e tudo muito óbvio, eu gostaria de dar exemplos mais palpáveis, tenho muitos para dar, mas se eu falasse tudo o que eu penso, estaria rompendo com as expectativas de todos ao meu redor, e por enquanto ainda não estou pronto e nem eles.

Contudo, vejo que a única solução para não nos decepcionarmos é não criando expectativas, porém, isso é impossível (apesar de algumas pessoas dizerem que conseguem não criar expectativas, isso é patético). Inclusive, quando deixamos de ter expectativa com uma pessoa ou coisa em específico, nada mais estamos que prevendo uma possível decepção, estamos com expectativa de decepção. Isso é mentir para si mesmo, é ficar pensando que algo ruim ou chato irá acontecer, para quando sair tudo certo comemorarmos.

Concluindo, todos sabemos de nossas expectativas, e sabemos quando elas são destruídas e o quanto isso nos dói, as vezes só não admitimos para os outros por causa das normas sociais e pelo o orgulho, e não admitimos para nós mesmos porque a verdade é um fardo muito pesado para se carregar. Preferimos a fantasia.