terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Dor nossa de cada dia nos dai hoje.

Sabemos muito bem quando uma determinada coisa nos faz mal, mas isso não quer dizer que iremos deixar de fazê-la.

Um exemplo prático é, bebemos, nos drogamos, nos envolvemos sentimentalmente com pessoas. Mas mesmo sabendo da ressaca na manhã do dia seguinte, dos possíveis distúrbios mentais ou do sono que algumas drogas podem causar ou que cedo ou tarde as pessoas com as quais nos envolvemos irão, no mínimo, nos frustrar ou nos magoar profundamente, não deixamos de fazer ou querer fazer estas coisas, vivemos realmente um dia após o outro.

Talvez seja pelo o prazer fugaz de fazer que fazemos. Mas independente de nossa motivação não adianta chorar o leite derramado, encheu a cara? Ature a dor de cabeça! Amou alguém? Um dia esse alguém irá lhe deixar, nem que seja após a morte [ah sim... todos morrem, seu pai e sua mãe também, então caso os ame, suporte também isso, pois é bem provável q morram antes de você.]. Com drogas talvez ainda seja pior, tem a tal da bad trip que nem espera o dia seguinte.

Mas o fato é que nós não só sabemos que algumas coisas que fazemos nos fazem mal, como também sabemos que às vezes a falta de atitude pode nos causar um mal bem pior, algo cotidiano, a agonia de não se gritar, de ter entalado na garganta aquele grande “foda-se”. Isso sim é assustador. Às vezes nos encontramos em um estado onde tudo que ao nosso redor nos deixam doentes, o trabalho chato, a convivência hipócrita, a falta de diversão, enfim a conveniência de ter uma vida medíocre.

Aí entram em cena o nosso cristianismo as avessas, não fazemos o que queremos, mas sim o que é possível de se fazer. Junto com nosso pudor e nossa virtude vem o peso da renúncia de uma vida sem dor. Nos submetemos a tantas coisas sujas e sem sentido apenas por conveniência que no final das contas perdemos o controle de nossas vontades. A falta de atitude vem da apatia, e nela a apatia é fecunda. Como em uma cultura de bactérias a apatia se multiplica até transformar a vida em pura inércia. [Deixemos a vida nos levar]

Ora, o remorso sempre existirá, a experimentação traz o remorso. O que realmente repudio é o remorso de algo que não se experimentou, a voz rouca incapaz de dizer um simples “foda-se”. [Talvez aprendendo a gritar, você acostume-se com os gritos dos outros.]

Acho que esse tipo de indagação reflete bem a dicotomia em que acredito que muitos, como eu vivem: humildade x orgulho. O orgulho é inimigo do remorso, é consciente e permite que vislumbremos que a dor anda junto com o prazer, são coisas da vida. Sentir dor não é errar, não é ruim, faz parte das variáveis da vida. O doce e o amargo, o quente e o frio, a noite e o dia. Quem foge da noite nunca verá o nascer do sol.

A humildade é covarde, ela faz com que fujamos das mudanças, ela prefere a dor em doses controladas, a dor da apatia. A humildade faz o homem acostumar-se com o açoite. A humildade baseia-se no principio da cega expectativa: atenderei as expectativas dos outros, para todos atenderem minhas expectativas. E sabemos, isso não é verdade.

Para concluir com esse texto absurdamente pretensioso, e pateticamente com reflexões com mais de um século de atraso, duas frases clichês de Nietzsche, que pra mim fazem sentido.

"Que não se venha a cometer nenhuma covardia contra as próprias ações! Que não as abandonemos em seguida! O remorso é indecente."

"O verme se enconcha quando é chutado. Essa é a sua astúcia. Ele diminui com isso a probabilidadede ser novamente chutado. Na língua da moral: humildade."