sábado, 5 de setembro de 2009

Sobre químeras, olhares pueris e truques de mágica

Sempre que olhamos para o cotidiano com aquele olhar infantil de deslumbramento, já possuímos um dia, coisas diferentes são vistas e sentidas. Eu tenho uma certa pré-disposição a ter esse olhar pueril, mas nem sempre sou tão romanesco, o dia-a-dia vai nos transformando em pessoas duras e práticas. Aos poucos, seus anseios ­fantasiosos vão dando espaço aos desejos mundanos. Matamos nossas quimeras para simplificar a vida, e com isso não só a simplificamos, mas a desbotamos, a uniformizamos, a esterilizamos.

Hoje, ao ligar a TV para jantar (única coisa que dá pra fazer ao se jantar para aproveitar o tempo) vi um truque de mágica, e fiquei pensando na lógica interna de tal coisa. Depois de pouco pensar, cheguei a uma conclusão simples, que já havia chegado antes através de outros meios. A mágica, assim como outros meios de entretenimento, se baseia na quebra da expectativa. Por exemplo, uma piada é boa quando o desfecho é exatamente o contrário do que se imaginava ou quando retrata situações absurdas, que não são de nosso cotidiano. Com a mágica a idéia final é bem parecida, esperamos decifrar o truque, esperamos que algo seja visível, mas sempre o mágico dá um jeito de nos ludibriar, e a cara de espanto é a manifestação mais clara da quebra da expectativa. E por mais que não seja uma regra, normalmente adoramos uma quebra de expectativa, num filme com final revelador, em um livro cheio de reviravoltas, num prato que revela novos sabores ou até mesmo em uma droga que nos dá novas viagens.

OBS: Já estou percebendo que esse texto está pra lá de didático, mas não é essa a intenção, mesmo assim vou ver onde dá esse texto, e vou postar. [Viu o texto já ficou mais pessoal].

Bem, voltando ao olhar juvenil, às vezes, coisas que poderiam ser normais, e que muitas vezes devem ter passado despercebidas nos tocam de maneira diferentes. Talvez porque quando estamos com esse estado de espírito de admiração embasbacada, a quebra de expectativa se transforma em regra, e nós gostamos dela certo? Nem vou me arriscar a responder. Só sei que quando algo que lhe tira daquele mundo de águas paradas, da pasmaceira habitual que por mais “diferente” que possa ser vai ficando igual de tão diferente [ok, sei que fui confuso], algo mágico realmente acontece. E nesse momento, você diz para se mesmo [mentalmente], ops... houve uma quebra de expectativa e a mágica romanesca acontece, o olhar pueril funcionou, sua quimera volta a ter vida.

Até aí, com esses inúmeros exemplos didáticos [está aprendendo né?] chegamos a conclusão que quebrar expectativas é uma coisa boa, certo? Será que se eu disser não estaria quebrando suas expectativas? Pois bem, NÃO.

Ao menos não para nós, seres domesticados e alimentados pela “amargura de nossa existência”. Gostamos de estar sempre no controle, gostamos de seguir a cartilha de como se comportar, e mais, gostamos de seguir o manual de como não frustrar expectativas [simples, só não tê-las]. Pois bem, pra mim basta. Vou soltar minha quimera e deixá-la correr livre por aí, porém com um pouco de zelo, pois têm muitos caçadores de quimeras a solta.

OBS2: Quase 1 da manhã, tinha que terminar de qualquer jeito mesmo.