sábado, 14 de novembro de 2009

Um cão malhado

Aquele cão vagabundo nunca havia entendido bem o porque de estar vivo. Desde pequeno havia passado maus bocados, andando de lá para cá sem saber o porque disso tudo. A explicação mais plausível para tudo isso é sua incessante vontade de viver, não se vê um motivo racional para tal vontade, mas ele a sentia e só. Prazeres durante a vida? Talvez alguns raros, como se deliciar ao revirar lixeiras. Mas a comida só servia para prolongar sua existência, no final era tudo em prol da sobrevivência. Havia cobrido certas cadelas por entre esses becos escuros, mas era algum prazer momentâneo, no final o vazio e a falta de razão em continuar suportando todas essas dores, simplesmente para viver, continuavam não fazendo sentido.

Esse pobre vira-lata malhado, continuava sua dura existência e por mais que achem que não, ele pensava. Não que pensar seja um grande dom, o cachorro concordava com Thomas Gray quando disse que “Onde a ignorância é uma benção, é tolice ser sábio”, mas já que pensava, e pensar e nada mais fazia sentido, aliás nunca havia feito, o que de novo buscar?

Numa sexta pela madrugada, estava o vagabundo a beira de uma rodovia, latindo para os carros. Quem passava, logo pensava: cães são todos loucos, alguma pessoa deveria pegar este cão e trancá-lo dentro de um canil. Mas nosso protagonista estava decidido, ele iria buscar hoje algo novo, que iria contra o seu principal instinto, o de sobrevivência. Nesse momento, ele parara de se preocupar com o que viria depois da morte, afinal ele nem sabia o que vinha junto da vida. Após alguns minutos dando seus últimos latidos, ele se jogou no meio da rodovia, até que viesse algum carro que não conseguiria desviar. O resultado, pode-se ver no outro dia, aquela pasta vermelha na qual sempre olhamos com repúdio, e apenas desviamos para não sujar nossos pneus.