segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Life’s Soundtrack

Ultimamente tenho prestado mais atenção em alguns componentes dos filmes, como jogadas de câmera, iluminação, atuações de atores coadjuvantes dentre outras coisas. Mas uma coisa que sempre me chamou atenção, não só no cinema, mas também em jogos e qualquer outro tipo de obra audiovisual são as trilhas sonoras.

O que seria de Magnólia sem a trilha de Aimee Mann e John Brion? Ou todos esses blockbusters como Star Wars, Jurassic Park e E.T. sem as pomposas trilhas de John Williams? E por último, qual seria a graça de Mario ou Donkey Kong sem os deliciosos temas? Bem, para mim é algo tão importante quanto qualquer cena, imagem ou roteiro. Simplesmente essencial.

Mas o efeito agradável (ou não) das trilhas não para por aí. Imagine agora uma vida sem trilha sonora? Bem, é claro que nós não temos uma trilha sonora propriamente dita, não no sentido físico. Por exemplo: não se toca uma música romântica quando vemos a pessoa que gostamos, ou aquela música de drama quando alguém de nossa família morre, não em tempo real. Mas no final das contas as nossas lembranças são sempre embaladas por trilhas e temas. Não nos damos conta disso no momento em que as coisas acontecem, mas depois, as músicas deixam marcas profundas e são chaves de acesso diretas para nossas memórias.

Não posso generalizar e dizer que funciona assim para todos, pois, talvez a música não seja importante para todos. Mas posso dizer que consigo sentir na pele tudo o que passei apenas ouvindo uma faixa que embalou o momento. Hoje é até engraçado pensar em algumas coisas que musicalmente nem me agradam tanto, mas que têm um significado bastante interessante, acho que dão toda a graça de minhas lembranças. Para dar exemplos bobos, basta lembrar da trilha de TOP GEAR para SNES para qualquer marmanjo que viveu essa época ficar empolgado e competitivo. E para dar um exemplo mais pessoal, foram várias as bandas que tiveram o papel de me causar sensações boas e ruins, e por incrível que pareça esse papel também é variável.

Uma das mais marcantes foi Alice In Chains, na época tinha um amor platônico e ouvia como um adolescente (talvez como UMA adolescente), emocionado. Depois num futuro próximo a este amor platônico, quando ouvia sentia tudo o que sentia anteriormente, mas achando graça, pois o amor platônico se mostrou não tão platônico quanto eu pensava. Mais para frente Beatles alegrava minha vida. Hoje em dia quando ouço me causa uma sensação estranha, pois agora ele embala um momento não tão agradável e me remete a algumas dores crônicas. Isso me faz pensar que a trilha por mais importante que seja, não tem força o suficiente para ter um significado só seu, acaba que os momentos lhe moldam, lhe dão gostos, lhe dão formas.

Para pessoas sinestésicas e empáticas, estas formas musicais podem ser pontiagudas, e o gosto pode ser muito amargo. Acho que em algum lugar da minha memória talvez ainda existam trilhas com perfumes agradáveis, mas as poucas que eu lembro pereceram, como se um espectro negro lhe tivesse roubado toda a luz e leveza. Isso não impede e nem deveria mesmo impedir de ouvir nada que me traga sensações desagradáveis, pois como sempre disse: prefiro sentir dor do que ficar em coma. Mas as vezes a dor é demais, melhor é administrar em pequenas doses diárias.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Enfim uma verdade

Tudo costumava ser tão simples. Tudo costumava ser tão real. Não que agora tudo seja uma farsa, a verdade ainda existe, mas agora não faz mais parte das regras do jogo. Se as pernas da mentira são curtas, as da verdade foram amputadas. A nova regra é a omissão, e o jogo agora é apenas para um jogador. Nada mais é permitido, uma só palavra de ternura, um simples afago ou uma singela, mas palpável declaração do seu sentir. Nada mais é permitido.

E acredite, se a expressão do sentir é proibida, o que se faz não deveria ser mais importante. Porque o fazer é fugaz, pode durar minutos, no máximo horas. Já o sentir, o sentir perdura durante todo o seu dia, por vários dias, anos ou até uma vida. Ele está sempre lá, a espreita, pronto para bater à sua porta, e caso você não o deixe entrar, ele irá irrompê-la, e talvez sua presença lhe cause ainda mais desconforto e horror. Porque pensamos no fugaz fazer? Talvez achemos que ele é a expressão do sentir, mas sinceramente, eles nem sempre estão associados, e como disse apenas o sentir é importante, apenas o sentir é constante, seu companheiro para todos os dias, frios ou quentes, amarelos ou cinzas.

O horror, este também é outro novo participante do cotidiano. Ele é o substituto da fé. Quando se acredita em algo, e simplesmente acredita, sem titubear, sem ao menos se questionar, se tem a fé, quando seu coração se esvazia de fé, este é tomado pelo o horror. O horror entra em cena quando suas certezas não estão mais sozinhas, quando fantasmas as rodeiam durante todo o seu sentir.

A omissão somada do horror causa a perda parcial da esperança, que não precisa ser cega, pode enxergar, mesmo que por águas turvas. Mas vamos por partes, digo parcial porque é claro que ainda resta esperança, porém a água por onde vejo minha esperança não está mais turva, está negra e densa, a esperança não pode ser vista apenas sentida, mas sei que ela existe, onde quer que esteja. A esperança está em algum lugar nos prendendo a este mundo e a estas regras, se não fosse a esperança o que nos seguraria neste jogo? O que nos faria seguir estas regras? Pura covardia? Talvez. Mas prefiro acreditar que há uma esperança, uma vontade adicional de sentir a simplicidade e o conforto que ela pode trazer.

O horror, a tristeza... Estes são componentes da vida, e nós (alguns de nós) temos a vontade violadora de simplificar a vida: Você está triste? Por quê? Dê-me um motivo, eu irei lhe ajudar.

Quem dera se fosse tudo tão simples, temos a inocência de achar que a vida é como uma engrenagem (a clockwork Orange), algo programável e débil. Se há algo errado, troque uma peça, chame um mecânico. Mas as coisas parecem não funcionar assim, por isso buscamos artifícios menos pragmáticos. A arte! A música, a literatura, cinema, as plásticas. Algo que possa servir não como uma porta, mas como uma fenda para nossa alma. Uma fenda estreita que lhe possibilita infinitas visões subjetivas. Isso é ser humano, buscar algo que não tem uma função social, apenas a função de ser real, de ser verdadeiro, de poder se expor sem preocupar com as regras do jogo.

Mas e quando você não consegue sequer abrir um simples buraco de alfinete? E quando sua languidez lhe priva da expressão, a única e derradeira vazão para seus sentimentos. Pois bem, este é o quadro clínico. Acostume-se com ele, pois se posso fazer algo, “acho melhor não”.

Prefiro viver em meio à névoa de um passado saudoso, e sentir, mesmo que de maneira omissa e individualista, a vida, por mais amarga e torpe que esta seja. E de qualquer forma, existem outros jogos a serem jogados, mas em todos eles há ao menos uma regra em comum, a hipocrisia. Talvez tenha escolhido mal os participantes do jogo, mas o que sinto é um imenso vazio, que só não é mais imenso porque é ao mesmo tempo raso, como já disse antes, raso como um pires. E talvez pior que ter que mentir o tempo todo para todos, é ter que mentir o tempo todo para si mesmo, mas essa também é uma regra destes jogos.

Costumam dizer por aí: “Eu não sou audiência para a solidão”, mas esta frase não faz muito sentido para mim. Talvez haja uma vida simples, bonita com caminhos retos e floridos. Mas desta vez prefiro dizer a verdade – este caminho não existe, a felicidade é uma mentira eterna, ou uma verdade efêmera, faça sua escolha. A desilusão é a condição real humana, mas cortar seu pescoço não lhe fará sentir melhor, apenas lhe fará parar de sentir. Se morrer é parar de sentir – “I see dead people... all the time

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Five Years

We've got five years, stuck on my eyes
We've got five years, what a surprise
We've got five years, my brain hurts a lot
We've got five years, that's all we've got

By Bowie

domingo, 18 de janeiro de 2009

Subindo degraus para saltar do alto

Basta observar um pouco para percebermos que quanto maior as expectativas maiores as decepções, não precisa de muito esforço para chegar a esse tipo de conclusão. Porém algo que me intriga é o que nos leva a criar as expectativas, ou porque nos sentimos tão mal quando as coisas não acontecem de acordo com nossos planos.

De qualquer forma, essa parece ser a lógica da vida, criarmos planos para alguns darem certo e outros darem errado, e nesse jogo de expectativas e decepções criamos nossas próprias novelas, e a arte cria seus dramas. Basta assistir um filme, ler um livro ou um quadrinho, ou qualquer coisa que o valha e você perceberá como o narrador cria a intriga, nos leva para o seu mundo, urde o roteiro forçando-nos a criar a expectativa certa (pelo menos essa é a expectativa do autor), no final ele pode atender essa expectativa ou dar uma reviravolta nos chocando e rompendo com nossa expectativa, e é claro, adoramos finais surpreendentes por mais tristes que sejam, todos adoramos uma boa surpresa. Mas também sabemos que é só um filme, e que depois esqueceremos tudo. 

Como estava falando, realmente essa nossa necessidade de criar expectativas me intriga, vou tentar fazer algo diferente nesse post, enumerando os possíveis motivos dessa necessidade e porque algumas soluções se frustram.

1 – O que são expectativas?

No meu ponto de vista são tentativas de por nossa capacidade de previsão em prática. Isso provavelmente acontece por, como Nietzsche afirmou, não sermos animais que esquecem. A nossa experiência vivida faz com que imaginemos que as coisas tendem a se repetir, é assim com um alimento, por exemplo, comemos algo que é horrível e esperamos que toda vez seja assim. É claro que esse é um exemplo demais simplório, mas prefiro usar estes genéricos para tentar não ser tão pessoal, pensem vocês mesmos nos seus exemplos, afinal já estou sendo didático até demais.

1.1 – O que mais nos leva a criar expectativas?

O convívio social faz com que queiramos copiar algumas trajetórias, ou ter a mesma sorte (ou azar) de certas pessoas. Isso é claramente uma generalização, mas somos mesmos generalizantes, não conseguimos pensar nas coisas com clareza sem sistematizar e tentar criar padrões, somos mesmo empíricos, acredito que nossa essência seja moderna e não pós-moderna.

Além disso, existe certa pressão para que seu comportamento seja padrão, as pessoas não esperam que você seja um desviante. Este fator pesa bastante e no final das contas a expectativa alheia acaba lhe obrigando a criar expectativas sobre sua trajetória padrão, suas conquistas devem condizer com o que a sociedade espera e admira.

Enfim, um bom exemplo para isso seria ter um amigo que conseguiu sua licença para dirigir ou passou no vestibular em uma faculdade disputada, a tendência é criarmos expectativas de fazer as mesmas coisas, além disso, esses exemplos são obviamente comportamentos padrões bem vistos pela sociedade o que nos força ainda mais a conseguir alcançar essas metas.

2.2 – O que frustra nossas expectativas?

Metas, isso também é um grande problema, pois parece mesmo fazer parte de nossa essência. Estamos sempre criando planos, não fazemos nada sem um objetivo traçado, somos feitos de segundas intenções, sempre pensando no próximo passo. E como num jogo, quando algo sai errado culpamos a nós mesmos, como se o erro não fosse o acaso e sim uma falha em nosso planejamento.

Acontece que são muitos fatores importantes, coisas acontecendo a todo o tempo, criamos nossos planos como se todos fossem peças de xadrez e como se a vontade dos outros fosse guiada por nossa própria vontade. Agora é que as coisas começam a me dar um nó.

Para ser sincero, sei e você também sabe que as pessoas são bem previsíveis a maior parte do tempo, e por isso acabam por satisfazer nossas expectativas muitas das vezes. Isso se deve aquele fato de seguirmos um comportamento padrão imposto e cobrado pela sociedade. Por outro lado, se não houvesse essa cobrança, e todos fizéssemos o que realmente desejássemos nos nossos anseios mais profundos, iríamos nos frustrar com as outras pessoas com muito mais freqüência, aliás, acho que esse é o pior tipo de frustração, uma vez que o sentimento de impotência, o orgulho ferido e uma série de outros sentimentos nos deixam com sensações físicas bem estranhas. 

Além de nos decepcionarmos freqüentemente por criar expectativas estúpidas, temos o péssimo hábito de criar expectativa nos outros, e fazemos isso intencionalmente. Quando prometemos algo, juramos ou até mesmo combinamos um programa, estamos apenas criando uma expectativa. É claro que isso é útil, uma vez que precisamos de um planejamento dos nossos dias, afinal, como disse, não conseguimos lidar com a imprevisibilidade. Mas acontece que muitas vezes temos que agir diferente do que prometemos, as vezes cedemos aos nossos ímpetos, contrariando as normas sociais e as expectativas das pessoas mais próximas a quem em tese deveríamos algumas explicações.

Bem, tudo isso parece muito confuso e tudo muito óbvio, eu gostaria de dar exemplos mais palpáveis, tenho muitos para dar, mas se eu falasse tudo o que eu penso, estaria rompendo com as expectativas de todos ao meu redor, e por enquanto ainda não estou pronto e nem eles.

Contudo, vejo que a única solução para não nos decepcionarmos é não criando expectativas, porém, isso é impossível (apesar de algumas pessoas dizerem que conseguem não criar expectativas, isso é patético). Inclusive, quando deixamos de ter expectativa com uma pessoa ou coisa em específico, nada mais estamos que prevendo uma possível decepção, estamos com expectativa de decepção. Isso é mentir para si mesmo, é ficar pensando que algo ruim ou chato irá acontecer, para quando sair tudo certo comemorarmos.

Concluindo, todos sabemos de nossas expectativas, e sabemos quando elas são destruídas e o quanto isso nos dói, as vezes só não admitimos para os outros por causa das normas sociais e pelo o orgulho, e não admitimos para nós mesmos porque a verdade é um fardo muito pesado para se carregar. Preferimos a fantasia.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O último tiro

A imagem na retina
o pesadelo impresso
o pulso fica rápido
as forças ficam débeis

a vida passa em sua frente
o suor desce em sua fronte
o óbvio lhe sova a mente
você se afoga num apático cinza

não há como fugir
não há força para lutar
a voz já não pode gritar
nem direito ao choro lhe resta

você se encolhe
como uma minhoca ao ser tocada
você só pensa em pensar
você só quer esquecer

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Parque Industrial Cover

Comedores de ração
animem-se, a glória lhes corteja
"é somente requentar e usar"

Os copistas estão a produzir
As máquinas não podem parar
"Já vem pronto e tabelado"

Não precisa nem pensar
A crítica já vem pronta
Em revistas multi-uso
A consciência encadernada
"É somente folhear e usar"