sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Amanhã

É um berro, um grito, um lamento. O puro tormento, reflexo lamacento de algo que já não é. É um romance, comédia ou uma trama, simples confusão. Um giro, um tombo, um tropo. A cada página uma logra invenção. São suspiros, sorrisos e gemidos. Uma pedra, cinco toneladas e a sinestesia catártica de duas flores sem pólen. Peso esquecido, sofrimento esmorecido.

Um silêncio, meio olhar e o retorno do pesar. A porta que se fecha, o aroma que se dissipa, novos tropos e a lama que insiste em me sufocar.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Pentimento (em construção)

Se antes pensava na vida, como sendo uma cópia do velho guitarrista cego de Picasso e toda sua estética desoladora, mas, sobretudo com um suspiro artistico, agora penso nela como o mictório de Duchamps, um simples e controverso objeto que valorizamos porque alguém disse que é especial, mas que no final só foi feito para se dar uma bela de uma mijada.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Como uma puta barata de beira de estrada, nunca sabemos quando vamos receber uns trocados, uma bela fodida ou um chute no estômago.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Pintado de azul

Maldito pássaro inoportuno
Arrancando toda minha pele e me deixando nu
Cantando alto e espalhafatoso com toda sua plumagem azul
Mais forte que eu, mais forte do que eu jamais poderei ser

Maldito pássaro inoportuno
Que não se rende a cigarros, whisky, pó ou putas
Ele sempre foi mais forte que eu
E mesmo quando adormecido é visível a léguas de distância

Voe pra longe, deixe-me viver com dignidade
Ou fique e me queime logo por dentro, até a morte
Mas não fique aqui olhando o meu choro
E ainda sim cantando, com essa plumagem azul

sábado, 24 de julho de 2010

Ontem

Nesses tempos de solidão contemplativa
Aprendendo a sofrer calados
A espera do carnaval e dos sorrisos impensados
Daquela voz, e de outras vozes, tudo que queremos

Do outro dia, sem o que pensar
Momentos impensados, tudo que queremos
Empanturrados de vozes, sufocando aquela outra voz
Carnavais, luzes, carnavais

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Por volta das 3 da manhã

Já eram duas e quarenta e cinco da manhã, e eu logo pensei como tudo desmoronava sob meus pés, eu já estava sozinho há duas semanas em casa trancado, mal suportava o meu cheiro. Morava então num bairro perto da linha de trem, longe de tudo e perto da parada dos trens. Todo dia as vinte e duas e trinta e cinco o trem buzinava incessantemente tentando avisar alguma coisa, nunca entendi. Além de o acesso as linhas ser restrito, é uma linha de trem, não há pra quem buzinar, o caminho é reto e sem transito. De qualquer forma, há duas semanas esse era um dos únicos contatos que eu tinha com o mundo lá fora.

Eu sentia que agora estava sendo sincero comigo, fazendo tudo aquilo o que eu queria, ou melhor, não fazendo nada que não queria, minha vida se resumia a nada. Tudo que eu via eram fotos coladas na parede de quando eu ainda tinha fé. As fotos de meus amigos sorrindo me criavam uma tremenda angustia. Lembro como era feliz naquela época, mas olhando agora me enrubesço de estar sorrindo em meio a tanta gente patética. Aquilo definitivamente não podia ser real. Ao fundo do painel a parede estava úmida, esverdeada devido ao mofo acumulado de meses, rachaduras por todos os lados. Este sim parecia o plano de fundo de uma vida inteira, decadente e desolada.

Três horas, duas semanas se passaram. Vou até o banheiro e vejo meu reflexo ou algo que deveria ser o meu reflexo. Vejo todo o óleo acumulado de pelo menos três dias sem sequer lavar o rosto, meus dentes estão com um aspecto terrível. Minhas olheiras estão realmente profundas. Toda aquela massa amorfa, com gordura e pelos espalhados em toda sua extensão, aumentam o meu nojo e me fazem lembrar que ali é o meu verdadeiro lugar.

É duro admitir, mas depois de ver todos os seus pilares emocionais destruídos um a um, toda aquela fé acaba dando espaço pra uma compreensão dura e dolorosa de nossa existência. Toda aquela fé se transformou na mais pura e simples fome, uma insaciável fome. Há dois anos como tudo o que me aparece pela frente, devoro experiências, amigos, sonhos e corações. É como se eu fosse um buraco negro e a fé fosse uma luz. Na ausência completa de fé, toda a fé que passou por mim nesses anos foi sugada e transformada em trevas, aqui dentro de mim. Só agora, duas semanas longe de todos esses medíocres românticos que mentem diariamente para si mesmos, me sinto puro, e não tenho mais aquela azia corrosiva. Só sentia o meu próprio hálito pútrido e minha saliva viscosa.

Sentia que todos que lá fora riam da minha imundice, sentia que todos eles estavam felizes jantando e arrotando ao som de Bob Dylan. Sentia o odor ácido de meu corpo imundo e minha consciência limpa como um consultório odontológico.

Três e quinze da manhã, uma vida contada em uma hora e tudo o que eu esperava é que minha morte chegasse em 5 minutos. Mas não, a morte iria demorar mais que o desejado. Após outra hora vomitando pura bile no chão do quarto, tudo o que eu consegui foi dormir. Acabara de desperdiçar as últimas horas antes do fim de minhas férias.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A morte de um feto anencéfalo

Cansado de catar os cacos e montar monumentos
Cansado de rimar e mijar nos meus momentos
As cortinas se fecham, e esse é o espetáculo
É apenas a moldura para um retrato em branco
Seco, morto.

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BLOG FECHADO POR TEMPO INDETERMINADO

domingo, 28 de março de 2010

Bogeyman

Estamos sempre à procura de novos monstros, eles sempre são mais interessantes que nós, meros filhos do meio, patéticos e comuns.

Em meio a essa batalha incessante por atenção, cheia de egos famintos enfileirados nas suas trincheiras, queremos sempre ampliar nossos dramas. Queremos chorar feito crianças até perder o ar para que alguém nos direcione um simples olhar. Somos magoados, chutados, largados de lado. Somos trocados por uma mulher com os seios mais rígidos, por um babaca alienado com uma conta bancária mais gorda, somos humilhados em público por pessoas que antes estavam te chupando dentro de um carro. E depois disso tudo, queremos as coisas como antes? Não, pensamos logo em cortar nos pulsos e deixar um bilhete, queremos chamar a atenção. O importante é que todos vejam o tamanho de seu monstro, e como ele foi subestimado durante todo o tempo.

Talvez a saída seja beber até conseguir fazer com que seu fígado vire uma bola de gordura. Ou cheirar quilos de pó. O importante é ser decadente, não importa se é escrevendo poemas em um blog, ou se sustentando um rosto taciturno todo o tempo. Queremos a compaixão, estes malditos egos famintos só querem se alimentar de lágrimas, de sorrisos, de abraços e de consideração. Não importa se é tudo falso, falso como nossas tristes vidas, falso como nossos grandes amores, falso como o instinto de sobrevivência, ou devia dizer covardia e acomodação?

Só queremos mostrar nossos monstros, o meu está me devorando. E o seu, anda sob controle?

A roda dos expostos

O espelho, a gênese diária de meus monstros imaginários. As verdades, quimeras fugazes, folhas no outono, frutos maduros a caminho da putrefação. A memória, amarga memória de um tapa forte, bem no meio da face, não deveria ter sido assim. O discurso, matéria-prima única desses castelos de areia que ao final da tarde a maré destrói. O orgulho, esse sim seu amigo diário, sentado a mesa, comendo de seu cereal, e lhe defrontando com aquele olhar taxativo que diz, o mundo tem que ser seu. A confusão, puta traiçoeira não lhe deixa decidir para qual lado correr. A morte, mãe acolhedora, sem pressa, a espreita para lhe dar o tenro abraço e lhe dizer ao final, que tudo não passava de uma birra adolescente.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Vergel de Quimeras

Fracassos e desgraças
semeados aos quatro ventos
vergel de quimeras
daninhas, estéreis
amém

Crisálidas, margaridas
Só resta o polén e a insatisfação
vergel de quimeras
daninhas, estéreis
amém

Madressilvas e heras
neste labirinto de fástio
que no final separa
a fábula do real
no vergel de quimeras
amém

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Considerações carnavalescas

A sensação poderia ser descrita como: me sentir como um escravo recém liberto. Estou sem os grilhões do trabalho, do estresse diário, do consumismo urbano (porque as lojas estão todas fechadas) mas não tenho outra vida para viver. Estou como um pássaro domesticado que é solto e tromba com a cara em todas as paredes da casa, até ficar agarrado em alguma janela ou preso debaixo da tampa de vidro da mesa da copa. Não estou livre, estou apenas no pátio recreativo esperando passarem minhas horas (umas 72) de descanso para então voltar ao dia-a-dia.

Mas não se engane, não há pássaros livres, apenas tentativas afoitas de sobrevivência. E nesse quesito, nós pássaros de gaiola estamos sempre um passo a frente. Poderia viajar, mas sei que no final o outro dia é sempre o outro dia, no final da transa, o orgasmo, depois do orgasmo, a roupa intima, um cigarro ou um cochilo. Quiçá tudo isso.

No final todo caviar vira ração. No final, é igual ao começo. Apenas uma página branca.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Evil Woman

Às vezes você olha para um homem e parece que ele está tentando recuperar algo perdido, como o tempo ou o seu grande amor, mas a incrível mania patética de tentar ser empático e a super autoconfiança de achar que se consegue ser empático, só lhe faz ver as coisas de uma maneira infantil.

Talvez o mais provável seja que o tempo realmente tenha sido perdido, que o seu grande amor também tenha morrido, ou fugido e que a sua fé tenha explodido junto com as outras coisas, mas ele não quer mais nada de volta, apenas quer esquecer que tudo tenha existido, e principalmente quer esquecer quem realmente é.

Deixar de lado aquelas suas escolhas, “esvaziar o saco” que encheu durante toda a vida, simplesmente não pensar nas péssimas escolhas que fez, e nas boas escolhas também, pois elas não lhe ajudaram em nada, no fim, tudo vira pó.

Mas você nunca veria isso, pois está cega por sua maldita empatia, que na verdade é egocentrismo puro e em polpa, é estar tão preocupada com si que se tenta estar no lugar de todos os outros, só para ter a sensação que saberia resolver aquele conflito com sua superioridade auto-sugestionada.

E essa auto-sugestão fodida lhe faz achar que sua vida é boa, quando você sabe que pisa em bosta, respira bosta, e está envolto em vômito e sêmen de outras pessoas como você. Pessoas que não querem ver, a não ser a sua própria imagem, depois de quilos de maquiagem. A realidade é dura? Acho que sua resposta é não, mesmo que você tenha certeza que odeia viver. Negue agora, não importa, mas não chore depois, não mais aqui, não mais comigo.

A vontade que eu tenho é de mandar você para o inferno, mas o inferno é ruim demais, acredite. Aqui no inferno é tudo solitário, pessimista e definitivamente não é um lugar musical.

E tomara que isso não doa como aqui dói, pois the "sorrow will not change your our shameful deeds"

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Footlose man

You can’t always get what you want
Você sequer sabe o quer
Então tropeça e agarra o que seus braços podem alcançar
Mas todas essas pequenas e fluidas coisas não podem lhe salvar
Dedo por dedo você deixa sua humanidade escapar
Para então, inerte deixar o seu corpo cair
Seus gritos de dor agora, são confundidos com os de deleite
Mas ninguém nunca se esforçou para entender suas súplicas
Não, não há mais pilares aqui e nem mais devir
Só a água empoçada e suja, e reflexos distorcidos

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

That's life

Tudo é simples e pré-destinado. Todos têm que crescer, é o que todos dizem. Então menstrue, dê sua coleção de bonecas para sua prima menor, estude, tente ser popular, finja ser mais puta do que parece ser. Depois cresça mais, arrume um namorado fajuto de merda, e pense em arrumar um emprego, reclame de sua vida patética e agora finja ser menos puta do que realmente é. Acomode-se no seu emprego de merda, e lembre-se tudo está escrito. Acomode-se, e apenas tente ser feliz, fechando os olhos para a tristeza, a merda em que você pisa é apenas estrume que faz as lindas plantas crescerem, apesar do fedor que você insiste em não sentir.

Acomode-se e deixe as coisas seguirem o fluxo natural, não se questione, está tudo escrito. Até onde isso vai? Será que você piscou e perdeu aquela imagem que poderia lhe fazer não ignorar toda essa merda, mas suportá-la e fazer dela sua merda? Ou será que foi outra pessoa quem piscou, não importa, está tudo escrito.

Não importa, tampe os olhos, o nariz, respire fundo e mergulhe para as profundezas. 'Cause this fine ol' world it keeps spinning around. Você está fazendo o seu papel, eu estou fazendo o meu papel, acomode-se, sempre esteve tudo escrito.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Minha inglória

Desculpe babe, mas não posso mesmo simplificar as coisas. Talvez elas tenham perdido a graça, pois só me restou um sorriso de manada, apático, amarelo, hepático. Fico olhando esses fofidos rirem de todos, com todos, de tudo, sem nada. Falta realmente algo, as coisas diferentes se tornam iguais em questão de minutos, e ficam só eu e meu jeito arrogante.

Talvez tenha esquecido minha alma com você, mas emagrecí demais e agora ela não me serve mais. E meu corpo sem alma é como comer sem tempero, de vez enquando dá, mas em pouco tempo fica ruim de doer. Então não foda comigo me pedindo simplicidade, pois já estou fudendo com tanta gente e de tão simples está complicado de aguentar.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Diálogos imaginários

Não amo a você, não amo a mim. Mas “baby, I’m ready for love”.

Como pode achar que não posso amar? Amo a idéia de amor, e para mim isso basta.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Diálogos imaginários

- Apatia, esse é seu problema. Se você continuar não se importando com nada, essa história de queimar vai acabar te derretendo, e depois lhe evaporando, vai acabar virando fumaça.

- Eu não estou fudendo para isso.