domingo, 28 de março de 2010

Bogeyman

Estamos sempre à procura de novos monstros, eles sempre são mais interessantes que nós, meros filhos do meio, patéticos e comuns.

Em meio a essa batalha incessante por atenção, cheia de egos famintos enfileirados nas suas trincheiras, queremos sempre ampliar nossos dramas. Queremos chorar feito crianças até perder o ar para que alguém nos direcione um simples olhar. Somos magoados, chutados, largados de lado. Somos trocados por uma mulher com os seios mais rígidos, por um babaca alienado com uma conta bancária mais gorda, somos humilhados em público por pessoas que antes estavam te chupando dentro de um carro. E depois disso tudo, queremos as coisas como antes? Não, pensamos logo em cortar nos pulsos e deixar um bilhete, queremos chamar a atenção. O importante é que todos vejam o tamanho de seu monstro, e como ele foi subestimado durante todo o tempo.

Talvez a saída seja beber até conseguir fazer com que seu fígado vire uma bola de gordura. Ou cheirar quilos de pó. O importante é ser decadente, não importa se é escrevendo poemas em um blog, ou se sustentando um rosto taciturno todo o tempo. Queremos a compaixão, estes malditos egos famintos só querem se alimentar de lágrimas, de sorrisos, de abraços e de consideração. Não importa se é tudo falso, falso como nossas tristes vidas, falso como nossos grandes amores, falso como o instinto de sobrevivência, ou devia dizer covardia e acomodação?

Só queremos mostrar nossos monstros, o meu está me devorando. E o seu, anda sob controle?

A roda dos expostos

O espelho, a gênese diária de meus monstros imaginários. As verdades, quimeras fugazes, folhas no outono, frutos maduros a caminho da putrefação. A memória, amarga memória de um tapa forte, bem no meio da face, não deveria ter sido assim. O discurso, matéria-prima única desses castelos de areia que ao final da tarde a maré destrói. O orgulho, esse sim seu amigo diário, sentado a mesa, comendo de seu cereal, e lhe defrontando com aquele olhar taxativo que diz, o mundo tem que ser seu. A confusão, puta traiçoeira não lhe deixa decidir para qual lado correr. A morte, mãe acolhedora, sem pressa, a espreita para lhe dar o tenro abraço e lhe dizer ao final, que tudo não passava de uma birra adolescente.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Vergel de Quimeras

Fracassos e desgraças
semeados aos quatro ventos
vergel de quimeras
daninhas, estéreis
amém

Crisálidas, margaridas
Só resta o polén e a insatisfação
vergel de quimeras
daninhas, estéreis
amém

Madressilvas e heras
neste labirinto de fástio
que no final separa
a fábula do real
no vergel de quimeras
amém