terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Let it burn

Deixe queimar, ela disse certa vez. Mas talvez não soubesse o impacto que uma simples frase poderia ter na vida de um homem daquela idade.

Queimar a si mesmo, e a cada resquício de humanidade que lhe restara tornou-se quase que sua ideologia, a única das ideologias restantes, aquela que veio para suprimir todas as outras.

Cada ítem da sua coleção de moral foi se esvaecendo, um a um, de vegetariano passou a comer carne podre nas lixeiras dos açougues. Aquele homem que sempre fora católico agora mijava em sua estátua fluorescente da virgem maria. Queimava, cada vez mais.

Queimava e chorava todas as noites, mas a cada pilar que queimava, só lhe restava apenas o gás para continuar queimando.

Porém, como uma vela, para-se de queimar, e sobra apenas uma fraca chama. Agora não lhe resta mais a fé, não lhe resta mais as ideologias e nem a chama. Queimou todo, e agora jogaram terra sobre aqueles restos putréfos de um homem, que um dia soube ter fé.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sobre coturnos e pessoas felizes

Hoje finalmente, mesmo que por um pequeno período de tempo, achei uma razão de viver, uma legitima motivação para continuar minha vida. Durante alguns minutos, todos os meus problemas existenciais, ou pelo menos alguns deles perderam importância para eu me focar na dor que um coturno pode causar após algumas horas de caminhada. Durante essas horas criei o ideal romântico de chegar a minha casa e ficar descalço. Porra, como essa merda dói, nessas horas só pensava em tirar as botas, e culpava deus e o diabo por me fazerem ter que andar a pé, que vida de cão.

No caminho fiquei pensando na minha conversa do escritório, como uma pessoa que não faz nada além de comer, trabalhar, cagar e dormir pode ser feliz? Mal remunerados casados com a mesma mulher gorda há anos, comendo a mesma ração diariamente, mas felizes, pois podem tomar sua maldita cerveja no final de semana, e eu aqui com toda essa infelicidade livresca no meu coração.

Mas sempre esquecia desse papo todo e pensava em tirar minhas botas, e pensava, tenho que comprar um veículo, isso de andar não é vida. De vez enquando a dor abrandava e eu voltava a pensar nas pessoas felizes. Numa ruela escura, com nome de travessa sei-lá das quantas havia uma velha pendurando centenas de luzes de natal na sacada, como alguém pode pensar em decoração de natal com tanta merda por aí? Se existe gente que se satisfaz enchendo de penduricalhos a varanda, pode ter mesmo gente feliz nesse mundo.

Chegando em casa vi um monte dessas pessoas felizes num trailer tomando cerveja, todos bem feios, e obviamente suados de um dia de trabalho, mas aparentemente felizes, só sei que entrei em casa, comi um bom pedaço de pudim, e dormi, de botas.

sábado, 14 de novembro de 2009

Um cão malhado

Aquele cão vagabundo nunca havia entendido bem o porque de estar vivo. Desde pequeno havia passado maus bocados, andando de lá para cá sem saber o porque disso tudo. A explicação mais plausível para tudo isso é sua incessante vontade de viver, não se vê um motivo racional para tal vontade, mas ele a sentia e só. Prazeres durante a vida? Talvez alguns raros, como se deliciar ao revirar lixeiras. Mas a comida só servia para prolongar sua existência, no final era tudo em prol da sobrevivência. Havia cobrido certas cadelas por entre esses becos escuros, mas era algum prazer momentâneo, no final o vazio e a falta de razão em continuar suportando todas essas dores, simplesmente para viver, continuavam não fazendo sentido.

Esse pobre vira-lata malhado, continuava sua dura existência e por mais que achem que não, ele pensava. Não que pensar seja um grande dom, o cachorro concordava com Thomas Gray quando disse que “Onde a ignorância é uma benção, é tolice ser sábio”, mas já que pensava, e pensar e nada mais fazia sentido, aliás nunca havia feito, o que de novo buscar?

Numa sexta pela madrugada, estava o vagabundo a beira de uma rodovia, latindo para os carros. Quem passava, logo pensava: cães são todos loucos, alguma pessoa deveria pegar este cão e trancá-lo dentro de um canil. Mas nosso protagonista estava decidido, ele iria buscar hoje algo novo, que iria contra o seu principal instinto, o de sobrevivência. Nesse momento, ele parara de se preocupar com o que viria depois da morte, afinal ele nem sabia o que vinha junto da vida. Após alguns minutos dando seus últimos latidos, ele se jogou no meio da rodovia, até que viesse algum carro que não conseguiria desviar. O resultado, pode-se ver no outro dia, aquela pasta vermelha na qual sempre olhamos com repúdio, e apenas desviamos para não sujar nossos pneus.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Alguém responde?

O rio da narrativa, é o devir. Tudo flui, nada volta a ser. Mas a água sempre corre do alto para baixo, o rio sempre nos leva para baixo. E as vezes a correnteza é forte e o fluir é rápido. Afogo-me em tanta inconstância. Só eu estou me afogando? Vocês todos jazem no fundo do devir?

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Vômito insone

Um grito, um tapa, um tiro
algo que me tire daqui
alguém pra me dar corda
alguém que me tire o chão

neblina tão espessa
que só me deixa sentar
e esperar alguém
que me ofereça

Um grito, um tapa, um tiro
algo que me tire daqui
alguém pra me dar corda
alguém que me tire o chão

um trago, um sorvo, um gole
algo que me tire daqui
mas não pra aquele lugar
não mais pra aquele lugar

É tanta neblina

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Desalento

Com uma borracha encardida eu mancho aquela velha folha de papel amarelado. Com um lápis eu reescrevo todas as idiotices que eu acabei de apagar. Faço isso mil vezes, a folha amarelada pui-se, sou eu quem estou rasgando-me. Dilacerado, sento a beira desta escrivaninha, reescrevo-me de novo, mas ninguém quer me ler.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Terças-feiras

_ Andei pensando, tenho tanta saudade das terças-feiras
_ Mas hoje é terça-feira.
_ Eu sei, mas não gosto dessas terças, é sempre tudo muito pré-fabricado. Sempre paro entre a lixeira e a árvore. E fico pensando em todo aquele lixo fétido junto daquela agradável sombra da árvore onde cachorros caros sempre cagam. Estão literalmente cagando e andando.
_ Do que está falando cara? Terça é terça e ponto final.
_ Entenda, não estou falando de terças e sim de saudade. Como pode ser tão ignorante?
_ Saudade das terças?
_ Saudade de Chopin, de olhos femininos, quase desenhados a mão olhando para os meus olhos peludos, agora são apenas carros buzinando, árvores fazendo sombras, lixeiras fétidas, cachorros andando e gente má intencionada.
_ Porque está tão nervoso?
_ Não estou nervoso, só estou com saudade, não entende? Bem, acho melhor pensar sozinho você me aborrece.

domingo, 20 de setembro de 2009

Um pouco de ar por favor

engolindo sua amarga saliva
sentindo uma doce náusea
em seu calcanhar só o medo
e o retrato de escolhas perdulárias

é o seu tilintar rotineiro
que some ao abrir dos olhos
e dá lugar ao tiquetaque desvairado
de mais um dia sem luar

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

TOP 5 - Grandes invenções

OK, talvez não sejam as maiores invenções, mas são de fato, as que mais facilitam minha vida. Então vamos logo a lista dos 5 itens que revolucionaram meu cotidiano.

1 - Internet: o fim de todas minhas dúvidas factuais. Por acaso sabia que existiu uma revolução no dia 7 de abril de 1831? Nem eu, mas Paulino José Soares de Souza disse que sim. Ainda não sabe do que estou falando? Que se dane, é só olhar na internet, ela lhe dirá tudo!

2 - Microondas: uma ode à minha preguiça. Sabe aqueles dias onde não se quer fazer nada além de sobreviver para o próximo dia? Pois é, utilize o microondas para facilitar sua existência, nele você faz macarrão, frita ovos ou explode gremlins.

3 - USB: porque diabos meu chuveiro ainda não tem um? Todos vocês devem saber o que é uma entrada ou saída USB, o fato é que ela agora está presente em tudo, plugo meu celular, no meu som, meu som na minha guitarra, meu secador de cabelos no meu aparelho de barbear, minha mesa no meu sofá. Obrigado por colocarem um pouco de padrão nesse mundo desordenado.

4 - Refrigerante Zero Calorias: o fim do peso na consciência. OK, como todas as grandes invenções, os retrógrados adoram criticar. "Credo, isso é amargo" ou "Que horror! Espuma em contato com o plástico" são falas comuns destes retrógrados, mas observem que eles ou são gordinhos que já desistiram de emagrecer ou são aqueles magros que não engordam nem sob tortura. Para nós, consumidores da mídia escravos de um padrão estético contemporâneo tomar uma boa coca-cola zero sem nenhum peso da consciência pode sim fazer o dia melhor.

5 - MP3: toda a música do mundo ao alcance de um clique. Certo, a pirataria não é algo bonito, pelo menos não para quem ganha com direitos autorais. Mas o fato é que poder baixar todos os álbuns em qualquer lugar, em qualquer momento é simplesmente divino. Graças a essa linda idéia posso ouvir tanta música quanto um milionário, e com USB ouço as mp3 em qualquer dispositivo, até no meu sofá. =)

sábado, 5 de setembro de 2009

Sobre químeras, olhares pueris e truques de mágica

Sempre que olhamos para o cotidiano com aquele olhar infantil de deslumbramento, já possuímos um dia, coisas diferentes são vistas e sentidas. Eu tenho uma certa pré-disposição a ter esse olhar pueril, mas nem sempre sou tão romanesco, o dia-a-dia vai nos transformando em pessoas duras e práticas. Aos poucos, seus anseios ­fantasiosos vão dando espaço aos desejos mundanos. Matamos nossas quimeras para simplificar a vida, e com isso não só a simplificamos, mas a desbotamos, a uniformizamos, a esterilizamos.

Hoje, ao ligar a TV para jantar (única coisa que dá pra fazer ao se jantar para aproveitar o tempo) vi um truque de mágica, e fiquei pensando na lógica interna de tal coisa. Depois de pouco pensar, cheguei a uma conclusão simples, que já havia chegado antes através de outros meios. A mágica, assim como outros meios de entretenimento, se baseia na quebra da expectativa. Por exemplo, uma piada é boa quando o desfecho é exatamente o contrário do que se imaginava ou quando retrata situações absurdas, que não são de nosso cotidiano. Com a mágica a idéia final é bem parecida, esperamos decifrar o truque, esperamos que algo seja visível, mas sempre o mágico dá um jeito de nos ludibriar, e a cara de espanto é a manifestação mais clara da quebra da expectativa. E por mais que não seja uma regra, normalmente adoramos uma quebra de expectativa, num filme com final revelador, em um livro cheio de reviravoltas, num prato que revela novos sabores ou até mesmo em uma droga que nos dá novas viagens.

OBS: Já estou percebendo que esse texto está pra lá de didático, mas não é essa a intenção, mesmo assim vou ver onde dá esse texto, e vou postar. [Viu o texto já ficou mais pessoal].

Bem, voltando ao olhar juvenil, às vezes, coisas que poderiam ser normais, e que muitas vezes devem ter passado despercebidas nos tocam de maneira diferentes. Talvez porque quando estamos com esse estado de espírito de admiração embasbacada, a quebra de expectativa se transforma em regra, e nós gostamos dela certo? Nem vou me arriscar a responder. Só sei que quando algo que lhe tira daquele mundo de águas paradas, da pasmaceira habitual que por mais “diferente” que possa ser vai ficando igual de tão diferente [ok, sei que fui confuso], algo mágico realmente acontece. E nesse momento, você diz para se mesmo [mentalmente], ops... houve uma quebra de expectativa e a mágica romanesca acontece, o olhar pueril funcionou, sua quimera volta a ter vida.

Até aí, com esses inúmeros exemplos didáticos [está aprendendo né?] chegamos a conclusão que quebrar expectativas é uma coisa boa, certo? Será que se eu disser não estaria quebrando suas expectativas? Pois bem, NÃO.

Ao menos não para nós, seres domesticados e alimentados pela “amargura de nossa existência”. Gostamos de estar sempre no controle, gostamos de seguir a cartilha de como se comportar, e mais, gostamos de seguir o manual de como não frustrar expectativas [simples, só não tê-las]. Pois bem, pra mim basta. Vou soltar minha quimera e deixá-la correr livre por aí, porém com um pouco de zelo, pois têm muitos caçadores de quimeras a solta.

OBS2: Quase 1 da manhã, tinha que terminar de qualquer jeito mesmo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Eu, Boi

Eu sou o homem que, assim como aquele boi, vive a comer esse capim gordura. Capim viscoso que me suja os dentes, enseba meus lábios, encarde meu buço. Sou o homem que assim como aquele bezerro nasceu querendo aprender a andar, e depois do longo e árduo aprendizado notou que andar ou deitar aqui nesse curral são apenas sinônimos, como eu e você. E logo aprendi a rasgar minha pele neste arame que me dilacera, todos os dias, todas as noites, acordado, dormindo, drogado ou sóbrio, o arame é a subversão, e meus pelos grudados em sua extensão são a marca de minha rebeldia. Assim como aquela vaca, notei que só sirvo para a ordenha, e nem mais o trabalho de me apalpar querem ter. Sei que tão logo meu leite secar, minha pele murchar, minha coluna envergar, serei jogado no lixo, junto com as cabeças de meus amigos, apodrecendo em algum fosso. Não sou herói, não sou lírico, não sou correto, quiçá honesto. Sou gado, e se sou gado é porque sou seu irmão, somos todos gado. Como bom boi, só espero virar uma picanha e em toda minha carência, receber um elogio, nem que seja sobre o prato de alguém. Ser útil ao deleite alheio, eis nosso destino.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Carta à um amigo próximo

Parabéns meu amigo. Finalmente você foi agraciado com um herdeiro, sangue de teu sangue. Agora todas aquelas noites com um sono incerto serão recompensadas, aqueles milhares de reais gastos com pré-natais, remédios e outras coisas agora fazem sentido. Veja como as coisas mudam de uma hora pra outra, há um ano você era um mero solteiro, sem filhos e sem compromissos. Apenas um homem que tinha todo o seu salário para gastar com prazeres mundanos como bebidas, charutos, drogas e festas. Parecia que só o prazer lhe importava. Agora não, você parou de gastar, apenas trabalhou durante esse ano, todo o seu dinheiro, fruto de seu suor, foi para a poupança cobrir os gastos do nascimento de teu filho.

Quão altruísta você é meu caro, seu peito deve mesmo encher-se de orgulho. E se acha que apenas as noites sem dormir, os gastos infindáveis, o trabalho dobrado e a sua vida sexual acabada são os únicos louros reservados a você, o mais novo pai, está muito enganado. Ainda tem muito por vir.

Agora você poderá finalmente curtir a monotonia de um casamento, ver o desinteresse por sua esposa crescer em progressão geométrica e junto com esse desinteresse crescerá também sua barriga. Mas em contra-partida, você poderá chamar sua esposa de dona Maria cada vez com mais freqüência no bar com seus amigos, e planejar comprar aquela TV de Plasma de inúmeras polegadas. Você perceberá que é muito melhor fazer compras no Leroy Merlin do que na Casa Rio Verde. E aqueles sonhos e anseios por conquistas que um dia sentira, agora depositará no seu filho, o seu reflexo, o seu mini-eu.

E quando você achar que já experimentou tudo na vida, enganou-se novamente. Você ainda terá que esperar até sua aposentadoria, onde sua vida vai realmente fazer algum sentido. Ou não.

Sucessos cada vez maiores. E novamente minhas congratulações.

domingo, 12 de julho de 2009

24 horas

Hey homem, mais uma vez
Desviante e doloroso
Mas, tudo em sua mão
e o que fará com isso?

Fumaça de cigarros
Sorrisos e más intenções
Tudo em suas mãos
e o que fará com isso?

Noites e dias
procurando por distração
quartos e cantos
procurando por destruição

mas e agora homem
o que fará com isso?

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Little Trouble Girl

Nesse estado eminente de negação, ela nega a tudo. Nega a si mesmo, nega a todos e a qualquer coisa que note existir. Mas o que é a negação em meio a uma vida enformada, onde até a negação já vem com uma receita pronta.

Ela se esforça, tenta espernear, tenta ser criativa, mas por mais que se estique, não alcança um lugar diferente do que sempre alcançou, as portas por quais ela passa todos já passaram, a janela por onde ela vê só tem aquela paisagem cinza e esfumaçada de seu dia-a-dia.

Com todo o seu ímpeto, que, diga-se de passagem, é típico das jovens, ela não consegue se satisfizer. Ao invés de conseguir alivio para sua dor, consegue apenas alimentá-la. É dor, é tristeza, é desespero, é sufoco. Talvez isso justifique a sua falta de amor próprio, suas escolhas duvidosas e apáticas, ela realmente não faz o que quer, falta-lhe a verve de antigamente.

Mas como sabemos, a vida é assim mesmo, deixamos nos envolver em meio essa névoa da mesmice, a busca pelo o conforto acaba por nos matar o brio, e ao fim, não somos nós, somos apenas bolor, esverdeados, decadentes e amorfos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

TOP 5 - VOZES FEMININAS

1 - Fiona Apple
2 - Aimee Mann
3 - Miho Hatori (Cibo Matto)
4 - Maria Antonia Mendes (A Naifa)
5 - Carla Bruni (não gosto tanto, mas a voz tenho que admitir)

terça-feira, 26 de maio de 2009

TOP 5 - ÁLBUNS DO MOMENTO 2 (com ano)

1 - 2004 - From a Basement on the Hill (Elliott Smith)
2 - 1994 - Grace (Jeff Buckley)
3 - 1999 - When the pawn (Fiona Apple)
4 - 2008 - Smilers (Aimee Mann)
5 - 2008 - Go Away White (Bauhaus)

Como estou ouvindo coisas novas né? (1994 é novo ainda)

domingo, 10 de maio de 2009

TOP 5 - Álbuns do momento

1 - Aladdin Sane (BOWIE)
2 - Eletric Warrior (T. REX)
3 - Ultra (Depeche Mode)
4 - The Sky's gone out (Bauhaus)
5 - We Start Nothing (The Ting Tings)

Só não para falar que o blog acabou

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Aviso aos navegantes

Em primeiro lugar, algumas pessoas se manifestaram sobre o blog, então obrigado para os que postaram comentários. Aproveitando, queria pedir para se identificarem de alguma forma ao comentar, estou recebendo alguns comentários interessantes e não tem como dizer nada, ou menos saber quem foi, isso é muito triste. Então, parem de mistério e falem seus nomes ou e-mail de contato.

Não vou abandonar o blog, mas preciso mudar meus paradigmas pra depois voltar a postar coisas novas, vida nova e essas pieguices todas.

sábado, 25 de abril de 2009

Aviso ás "Multidões"

Devido a uma retomada de minha autocrítica, não irei mais postar neste blog por um bom tempo, pelo menos até me sentir melhor para isso. Os motivos são simples:
  • são poucas as pessoas que lêem, e muito menos as que comentam, isso não é de todo ruim, mas não é de todo bom.
  • não me sinto capaz de me expressar, meus textos são medíocres e egocêntricos, e não faz muito sentido publicar algo que só agrada a si mesmo, melhor guardar para mim.
  • não quero mais contar com esse subterfúgio virtual, decidi queimar sozinho
  • e por último, não quero mais testemunhas do que se passa, acho que é importante passo para acabar com meu egoísmo, agüentar tudo sozinho.
Sei que fui incoerente nos motivos, mas a vida é assim, incoerente e mentirosa. Obrigado aos que sempre leram meu blog, e principalmente aos que comentavam. Isso servia para massagear meu ego, que aqui jaz.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

História sem fim

Abro os olhos, reviro, suspiro
A noite nunca tem fim
Fecho os olhos, choro, pioro
porque a gente é assim?

As borboletas já não cabem aqui
E nos meus olhos molhados
Vejo-as no fundo do vazo
Boiando, junto ao meu reflexo

Queria apertar aquele botão
E ver-me descendo neste buraco
Mas eu continuo aqui
Em pé, esperando o meu descanso merecido

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Cadafalso

Galo a cantar, é o sol
Em minha cabeça, mais um dia
Calos em minhas pequenas mãos
Dor em meus pés descalços

O mato a cortar minha pele
O peso a abater minhas costas
A mão a ferir meu rosto
As palavras que me jogam no poço

O sol a se por, é a lua
Nada mais acontece, é a noite
Latas nas portas, é o medo
A dor em suas víceras, é a morte

A cama de palha, é o sono
O cansaço me inebria
Não ouço a lata, a morte espreita
Sorrateiro, foge ao seu destino

De novo de pé, não, não é o sol
É o grito, corro para ver
É ele, é a árvore, é a corda
A dor não mais lhe incomoda
Agora ela é só minha

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Amor ideal

o amor ideal
não se desgasta
atinge a todos
independente de casta

sentimento ordinário
indefinido, subjetivo
sentimento involuntário
incomplento, transitivo

o amor não pede licença
não escolhe quem
doce e eterna sentença
faz-nos de refém

porém, sem vivê-lo
não tenho um norte
por puro desmazelo
anteponho a morte

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Rio de desgraças

Eu rio, rio de desgraças
rio de decepções e desilusões
rio de torrentes sentimentais
rio torrencial

Eu rio, rio de desgraças
rio de ser sempre o mesmo
rio de nunca ser o mesmo
rio do devir

Eu rio, eu devir
eu existo, eu padeço
eu, rio de desgraças

terça-feira, 7 de abril de 2009

Por nada

Por teus pais, que te ensinaram a não quebrar o ovo

Por todo o pudor que se amontoou ao teu redor, te sufocando

Por toda a beleza que apenas ignoraste por tua existência

Por teus amigos, que te compraram de acordo com a demanda

Por teu dinheiro, que te permitiu falar quando deveria calar-te

Por tua hipocrisia que fez calar-te, quando deveria gritar

Por arrepender-te agora, quado não há mais tempo

Por não ter a quem dizer adeus...

sábado, 4 de abril de 2009

Carta para uma amiga

Boa noite solidão,

Hoje, não consegui fugir e você me pegou em cheio. Bom saber que passaremos mais uma noite juntos, já faz tempos desde a última vez. Sabe como é, o trabalho e a rotina acabam me fazendo dormir cedo e nem tenho tempo para lhe receber.

Mas aproveitemos nosso tempo juntos, como antigamente. Você me vem com todo esse papo, me deixando paranóico, me lembrando da minha insignificância. Me faz lembrar de todos aqueles problemas de sempre. Pois saiba que adoro essa úlcera que devora meu estomago toda vez que me visita. Ela faz me sentir vivo. Saiba também, que esses fantasmas que lhe acompanham toda vez, bem... já me acostumei com eles, apesar que eles vivem me magoando.

Pena que hoje somos só nós, nossos amigos o Whisky, a cocaína e os cigarros não vieram. A festa é só nossa. Mas como não gosto de pouca gente, estou me encarregando de achar mais alguns fantasmas, lendo aquelas cartas velhas dentro destas latas. Bisbilhotando coisas que não deveria, e imaginando coisas da maneira mais dramalhona e auto-destrutiva possível.

Não que eu esteja despretigiando-lhe, saiba que você é a pessoa mais importante da noite, sem você nada disso seria possível. Só tenho a lhe agradecer. Pois é apenas com você, minha única e sincera companheira é que mostro minha verdadeira face. Você me dá as ferramentas, e eu boto as mãos à obra. Me dê os motivos, e eu estabeleço minha própria desgraça, me dê o tempo, e eu me encarrego de preenchê-lo, com dor e amargura. Só assim, dentro desse abismo consigo olhar o mundo, e ver como tudo é engraçado. A canalhice alheia me enaltece, e quando estou assim, a sós com você, percebo-a com mais clareza. Esse seu jeito de falar, ao pé do meu ouvido, sussurrando me dá calafrios, mas por outro lado, você sabe que acabo me encantando, cada vez mais e mais. O seu discurso é tão sedutor, que acabo por me enojar de todos esses hipócritas falantes. Basta falar para ser hipócrita, e você não fala, sussurra.

Sua sinceridade me comove. Espero ser para sempre seu.

[]s
Seu principal admirador e escravo.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Meninos não hibernam

cansado de tanto correr por atalhos sem fim / cansado, de depois de tanto correr sem chegar, ser forçado em manter a cara de menino limpo saído do banho / imensurável, é o ódio e o horror, irmãos cancerígenos que deitam e rolam aqui e acolá / farto deste “nariz vermelho”, que se avermelha proporcionalmente às trevas ao meu redor / indignado por não entender o jogo, e insistir em rir quando deveria chorar / preguiça, arrogância, tristeza, tédio, medo, desespero / esse grito, que sempre digo estar aqui, em algum lugar / essa esperança enfadonha que não se mostra a que e pra que / perdido, impotente, sozinho, inerte / em suma CANSADO / só queria hibernar até essa tempestade passar / mas não sou mais urso / não sou mais grande / sou só um menino / marcado, doente, mórbido / mas ainda menino.

domingo, 22 de março de 2009

Nem sal nem açucar, apenas soro

Toda a mediocridade do mundo
reunida em uma pessoa só
Não sou Bowie, não sou Cohen
Sou apenas gado, a espera do abate

Toda essa insipidez
Aqui, cada vez mais perto
Não sou junkie, não sou beato
Sou só mais um filho do meio

Toda essa fleuma
Me impede de gritar
Só me resta esse chiado
asmático e sufocante, mas indolor

Vida morna, meio assim, meio assado
Não dói a ponto de chorar
Não diverte a ponto de rir
Não esquenta a ponto de suar
Não esfria a ponto de espirrar

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Carta sem destinatário [ou quase]

Eu nunca havia sentido frio, nunca havia sentido dor. Em todos os meus dias olhava para o chão e nem notava sua presença. Ele sempre esteve lá firme e estável. Cumpria o seu papel, me deixava pisar e andar sobre ele, sem sequer fugir de mim.

Em todos os meus dias, meus olhos sempre souberam para onde olhar. Olhavam apenas para onde era permitido. Aqueles horizontes mais longínquos não despertavam o interesse de meus olhos, eles eram pragmáticos e sóbrios. 
Durante todos estes anos, minhas mãos sabiam onde tocar, e principalmente como tocar. E nem era necessário pensar, toda aquela repetição fez com que as coisas simplesmente acontecessem.  Não que o meu trabalho fosse um modelo de fordismo, mas a previsibilidade traz a segurança. Nada mais seguro que um dia após o outro.

Mas antes não é agora. Por isso usei todo o tempo o passado para conjugar meus verbos.

Agora o que resta é um fantasma do antes, não que agora seja ruim, mas quando se está aprendendo a voar você apenas quer sentir novamente o chão abaixo de seus pés. E nesse caso, a dor é simplesmente o novo, o sentimento que você não está acostumado, não é rotineiro e se antes você apenas esperava essa dor passar, agora você se dá conta que ela é o novo conforto, ela é quem irá lhe acompanhar daqui pra frente. Mas pisar e não sentir chão é algo deveras assustador.

Neste agora, não há mais lugar para aquela visão clara e decidida, agora resta uma neblina. Os sinais estão lá, mas você não os entende mais. Essa nova língua lhe confunde, lhe deixa com medo. Porque estes olhos insistem em mostrar o novo? Porque estes olhos apenas não se fecham esperando tudo passar? Aqueles horizontes longínquos que antes eram apenas longínquos se chocam contra sua face, eles existem e querem ser notados, ou apenas existem e os olhos querem notá-los.

E as mãos que antes sabiam ser mãos, agora se estremecem como se um Parkinson precoce se apoderasse de seus movimentos.  Mas isso não é genético nem biológico é apenas medo. Medo de não serem compreendidas de não saber se comportar na hora e no lugar certo.

O que causa esse medo de Agora, é simplesmente o fato de a minha visão ter mudado, mas não os meus óculos.  E isso faz com que o mundo seja distorcido, desfocado. Mas diferente da vida real, não basta ir na ótica e comprar novos óculos, esses têm que se desenvolver com o tempo. Até me adaptar, tenho tropeçado onde nunca havia tropeçado, confundido pessoas, enfim errado. E errado feio. Isso dá ainda mais medo de viver esse mundo sem chão, com neblina, Parkinson e óculos velhos. [Criei um INFERNO!!].

Apenas peço desculpa por não conseguir ser simplesmente o novo eu (com novos óculos) que me propus a ser. Isso parece que vai demorar um pouco. Mas por mais que esteja vendo tudo turvo, agradeço muito a todos* que de alguma maneira me fazem me sentir bem. Por mais que os malditos fantasmas não me deixem fazer tudo o que eu queira, tudo tem sido muito especial. Simplesmente obrigado.

*Não vou publicar nomes, mas são pessoas reais, de carne e osso. E gostaria de escrever uma carta individualmente e diretamente, mas vocês me julgariam muito emo. :)

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Marcas

A despeito de que muitos pensam, não consigo pensar na vida de outra forma senão como uma estrutura. Neste post, quando me refiro a uma estrutura, não estou pensando em termos econômicos, históricos ou sociais de modo geral. Estou pensando em nossa própria vida, como ao longo dos anos estruturamos um modo de ser que é autoritário e sufocante.

Autoritário, pois ao longo dos anos alguns eventos ou vivencias mudam nossa percepção e nossa própria possibilidade de ter ou fazer as coisas. Alguns preconceitos não fazem mais sentido racionalmente, alguns cuidados novos precisam ser tomados e outros antigos deixam de ser necessários. Além disso, algumas pessoas que dão certo sentido em sua “estrutura” deixam de fazer parte de sua vida, morrem, se mudam ou simplesmente vão embora. [Ou nesse mundo moderno lhe bloqueiam do MSN]. Isso para falar nos impactos práticos, além desses há os referenciais. Você lê um livro e se identifica com a filosofia do autor e quer segui-lá, você conhece um amigo e acha que ele sim sabe viver, e quer copiá-lo, ou mesmo num filme com filosofias e modos de pensar enlatados em 2 horas de duração você se identifica e vê o quão vazia e sem sentido é sua vida. Porém com tudo isso, com todas essas pequenas mudanças e anseios por outro eu, a sua essência é tão dura como um bloco de concreto, tão bem tramada que por mais que você tente no final sempre nota que andou, andou e não saiu do lugar.

Ao longo destas tentativas de mudança, definimos algumas metas. Externamente são relativamente fáceis de serem cumpridas, como por exemplo, mudar o modo de vestir, começar a beber, parar de beber, começar a fumar, parar de fumar. Decidir falar de tal modo ou não falar, adquirir um novo hobby e assim por diante. Estas coisas precisam apenas de um pouco de força de vontade. Mas quando mudamos ou tentamos mudar essas pequenas coisas estamos tentando reconstruir nossa identidade. De qualquer forma, no estado de auto-desilusão comigo mesmo, estou começando a achar que tudo isso é completamente inútil. É como pintar seu apartamento para achar que mora em um lugar novo, é uma tentativa desesperada de mudanças mesmo que no final, nada mude de verdade. Aqueles preceitos morais, aqueles anos de você mesmo, no fundo não estão mudando, e você sente isso com alguns flashes. Você é outra pessoa 90% do tempo, mas nos momentos cruciais, você se vê assombrado por fantasmas, preso em correntes e simplesmente vê o quão difícil será mudar, e como em toda tarefa demasiadamente difícil, a primeira reação é tentar desistir, sentar na beirada do passeio depois de correr 10 km e ainda faltarem 50. 

Com esse papo todo parece que estou querendo definir uma essência humana, não é bem isso, não acredito nessa essência eterna e pré-destinada, mas que é difícil tirar as marcas da vida, isso é incontestável. E temos que nos habituar com nossas cicatrizes, porém quando essas cicatrizes estão no rosto e você não consegue mais escondê-las, ou mesmo quando elas estão escondidas, mas uma pessoa importante as nota, é realmente desesperador.
Só vejo duas soluções possíveis para esse embate. Se esconder em um quarto escuro para sempre, assim as pessoas não mais notarão suas cicatrizes, ou viver mesmo envergonhado por ser algo que não gostaria de ser até que essa vergonha acabe. O problema com a segunda é que você vai passar por maus bocados, algumas experiências serão traumáticas e poderão deixar novas marcas. É difícil viver longe de sua estrutura confortável e receptiva, as novas realidades costumam ser bem cruéis para pessoas sensíveis. Na verdade é cruel com todos, mas as pessoas sensíveis sentem, ora bolas.

Com relação às pequenas mudanças, apesar de ter dito logo acima que as acho inútil (e realmente é assim que elas têm se mostrado), acredito que em longo prazo podem significar algo. Afinal a vida é como um texto escrito em uma folha branca. O texto não é o papel com um pouco de tinta formando palavras somadas, o texto não é isso separadamente. Ele é a junção destas coisas, o autor o define nos detalhes, no contexto, nos termos, nos exemplos. Racionalmente só consigo pensar que mudando os detalhes, aos poucos se muda toda a narrativa de sua vida. A minha folha não é mais branca, está escrita, amassada e rasurada, mas ainda há alguns espaços nas margens. Talvez só seja preciso reinterpretar e dar um novo sentido as palavras escritas.

PS: comecei o texto com um sentimento horrível de medo, de repente me veio um pouco de esperança, por isso a falta de coesão, sorry.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Meu relógio parou

Em uma de minhas anotações de pé de página escrevi: “Como as pessoas são objetivas, como todos são calculistas”. Às vezes faço isso, escrevo nas beiradas das páginas alguns assuntos que não tem nenhuma relação com o texto, é essa minha mania intricada de pensar em várias coisas ao mesmo tempo. A maior parte dos meus posts surgem deste tipo de anotação, como neste caso.

Demorei um pouco para lembrar o que me fez escrever esta frase, mas agora lembrando a situação na qual escrevi me vieram alguns flashes que já são suficientes para escrever este post. Certo dia estava a alguns minutos de sair, lendo um conto de Herman Melville, e então percebi que já estava passando da hora de eu me preparar, trocar de roupa e estas coisas. Ao trocar de roupa fiquei pensando no quanto me tornei calculista e objetivo com o passar do tempo. Mesmo pensando nos exemplos de pessoas que convivem comigo, ou que simplesmente passam pela minha vida aleatoriamente, notei que todas estas pessoas, adultas e responsáveis, no sentido habitual da palavra, eram também extremamente objetivas, pragmáticas.

O que me fez chegar a esta conclusão, são os pequenos detalhes, a principio em meus comportamentos. Ao me preparar para sair escolhi metodicamente o que usar, imaginei as situações possíveis, peguei tudo o que precisava como cigarros, isqueiro, balas e preservativos. Enfim, tentei prever toda a noite para então escolher o que vestir, o que carregar e até mesmo que perfume usar. Tudo bem, até aí nada se caracteriza como exacerbadamente objetivo talvez um pouco calculista somente. Mas vamos continuar com as colocações.

Pensei no fato puro de estar saindo, eu já tinha lugar planejado e previamente combinado. Além disso, até o final de noite já estava planejado, já sabia onde comer, já sabia como as coisas poderiam terminar. Novamente, apenas calculista. O que vai mudando este quadro para objetivo é, nunca me veria saindo sem objetivo, sem um lugar planejado. O objetivo pode ser ouvir uma banda, me embebedar, me drogar, conseguir algum sexo ou uma simples conversa com alguém interessante, mas não me vejo mais saindo sem um objetivo. E estendendo esta questão, não me vejo fazendo nada sem objetivos, quando não se tem objetivos simplesmente não se faz. Ficamos prostrados em frente a TV, ou na Internet olhando sites, em busca de algum entretenimento ou quem sabe um novo objetivo.

Talvez o que cause este comportamento pragmático seja a vida pragmática de um individuo integrante desta sociedade de consumo. Logo aprendemos que para viver temos que trabalhar. Em seguida trabalhamos o mês todo com o objetivo de se ter um salário. E não sabemos ao certo porque precisamos do dinheiro, a não ser para nossa sobrevivência básica, isto é incontestável, sem dinheiro não se alimenta, não se veste, não se existe. Digo não se existe, pois precisamos comprar, precisamos consumir tanto para nos identificarmos com algumas pessoas tanto para nos diferenciarmos de outras. E não consumimos apenas alimentos ou roupas de grife, consumimos filmes cults, músicas que quase ninguém ouve, consumimos até pessoas. Sim, pessoas. Pessoas interessantes, pessoas bonitas ou talentosas, desse tipo que temos orgulho de andar junto, para também afirmarmos nossa condição, seja ela qual for.

Todo esse nosso processo de identificação é alimentado por dinheiro, pois para achar esses elementos, temos que freqüentar lugares pagos, temos que consumir coisas que outras pessoas interessantes consomem, temos que nos vestir adequadamente, temos que beber aquela bebida especial, aquela que cria sua identidade. [Qual é a sua? A minha é um bom Tennessee Whiskey.]

Talvez por essa necessidade latente de consumir e de construir nossa identidade acabamos por nos tornar claramente pragmáticos. Lembro-me que há alguns anos eu me sentava no portão da casa de algum amigo e simplesmente jogava conversa fora. Eu tinha até tempo de olhar para Vênus (o planeta e não a de Botticelli) e olhar o quanto ele “caminhava” pelo o céu durante a noite.

Lembro que podia ficar a mercê do acaso, andar, encontrar um conhecido e andar mais. Hoje em dia o meu tempo vago não é mais vago. Aliás, é bem concreto. Planejo cada segundo, tem o tempo de tocar, o tempo de ler, o tempo de assistir filmes e até mesmo o tempo para jogar conversa fora, o acaso agora é cronometrado. O tempo vago tem hora de começar e hora de acabar. Este é um quadro, não se tem muito o que fazer para mudá-lo.

Mas um dia destes em um das minhas horas vagas planejadas e cronometradas estava sentado em um banco, em uma praça [sem trocadilhos com o programa televisivo por favor]. Estava apenas sentado, e neste momento senti uma ruptura com todo este mundo calculista e pragmático. Já era tarde, e estava apenas esperando dar a hora de pegar um ônibus, mas apesar de estar sem fazer nada com um objetivo, não foi isso que senti no momento.

Naquele momento, não pensei em ônibus, não pensei no outro dia, não pensei em nada. Isso me proporcionou um momento mágico, onde meus sentidos fizeram mais sentido que habitualmente. Pude notar cada detalhe ao meu redor e apenas senti como o momento era bom. Não sei se aquilo era útil, se ia desencadear em outra coisa, só senti o momento. Me senti como aquela criança que via as horas como um monte de regras abstratas, sem sentido. Apenas números.

Pouco tempo depois voltei para a minha realidade e já sou uma pessoa pragmática. Mas se pudesse sentir isso outras vezes, acho que já seria o suficiente para suportar esta rotina que simplesmente existe. Não há para onde correr, nem onde se esconder.

Todo esse sistema, o consumismo e estas coisas que julgamos terríveis acabam no fundo fazendo parte de nós. Sou o sistema, o sistema sou eu. Mas bem que fugir às vezes para outro lugar, um lugar onde o tempo não para, simplesmente deixa de existir, é especial, isto eu não posso negar. 

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Simples assim

Certo dia desses, vi uma cena que provavelmente já havia visto centenas de outras vezes, mas que no momento me tocou de uma maneira diferente. Havia saído para me “divertir” numa sexta-feira à noite, e desta vez resolvi ir de ônibus. Às 21:00 em ponto, chega o ônibus. Nesse horário quase mais nada funciona, apenas bares, shopping e outros meios de entretenimento, e é claro o suporte para isso, como o ônibus supracitado.

Eu estava pensando em milhares de coisas sobre como iria ser minha noite, o que me motiva a sair, o que me motiva a beber, enfim criando algumas expectativas e evitando outras. Estava voltando da lanchonete onde fui comprar mais cigarros quando desce do ônibus o trocador, um senhor que provavelmente deveria ter mais de 60 anos. A primeira coisa neste senhor que me chamou a atenção foi o seu sorriso, que me pareceu deveras espontâneo, isso também deveria ser normal, mas para mim não era. Em primeiro lugar na minha opinião ser trocador de ônibus está numa lista entre os piores empregos do mundo, aturar um ônibus balançando o dia todo, sem fazer nada, e ainda por cima com centenas de passageiros chatos puxando assunto várias vezes por dia deve ser algo realmente assustador. Além disso, pensei comigo mesmo, como alguém, trabalhando numa sexta-feira à noite, com essa idade pode estar feliz?

O senhor estava com seu uniforme, tirando um maço de cigarros do bolso e compartilhando com seus amigos. Neste momento eu pensei, o que será que ele faz nas horas vagas? O que motiva este senhor a continuar?

Inevitavelmente veio a minha mente uma comparação das coisas que eu faço e julgo importante e as coisas que ele faz. Para mim é importante criar, estou o tempo todo pensando em tocar, compor, escrever poemas, textos, artesanato, enfim, qualquer processo criativo me agrada. Já este senhor, duvido que ele faça alguma destas coisas. Além do mais sua vida sexual era obviamente rotineira, se é que havia alguma vida sexual para ele. A julgar pelo o seu visual, ele não devia ser muito preocupado em conquistar outras mulheres, acho que esta é uma preocupação que não lhe concerne.

A julgar por seus assuntos, ele não parece um apreciador de cinema, música, literatura, fotografia ou qualquer tipo de arte cult. Então o que diabos este homem faz em seu tempo vago? Eu tenho milhões de coisas para fazer no meu tempo vago e continuo buscando mais coisas, como alguém pode viver numa vida tão diferente da minha?

Isso me faz pensar nas várias outras pessoas que passaram em minha vida que levam uma vida assim, com uns objetivos fixos, palpáveis e simples. Trabalhar, ganhar dinheiro, gastar dinheiro com bens de consumo e pronto, receita de bolo infalível.

Será que a vida pode ser tão simples, será que sou tão frívolo que não vejo o sentido real das coisas? Até esse dia pensava inocentemente que todos eram como eu, que todos teorizavam sobre a vida, que todos apertavam seus pulsos, tentando evitar que o tempo que escoa entre os seus dedos se esgote. Mas não, algumas pessoas só fazem, simplesmente fazem, ou simplesmente deixam de fazer. Simples assim.

Mas pensando nesta simplicidade toda eu me sinto como se tivesse visto um filme sem o final, algo inacabado. Será que tem algum motivo bobo e simples para ser feliz e sentir motivação para viver? Se existe por favor me conte, porque eu tento achar todos os dias e até hoje só acho perguntas. Talvez o trocador tenha a resposta, ou talvez ele nunca tenha se feito esta pergunta.

Talvez seja melhor mesmo não teorizar, só fazer. Talvez a vida seja um destes atos impulsivos que experimentamos. Um destes bem mundanos, motivados por tesão, álcool, medo ou orgulho. Algo que quem não teoriza consegue tirar de letra, algo que “teorizadores” como eu, talvez nunca sintam o gosto. Algo simples como viver.

Pensamentos profundos [2]

As vezes gostaria de poder cantar uma música inteira, quiçá um álbum de faixa a faixa, mas só podemos cantar refrões.

O que me coforma, é que os refrões são as partes mais memóraveis e divertidas de se cantar. ["Must be in tune"]

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Dor nossa de cada dia nos dai hoje.

Sabemos muito bem quando uma determinada coisa nos faz mal, mas isso não quer dizer que iremos deixar de fazê-la.

Um exemplo prático é, bebemos, nos drogamos, nos envolvemos sentimentalmente com pessoas. Mas mesmo sabendo da ressaca na manhã do dia seguinte, dos possíveis distúrbios mentais ou do sono que algumas drogas podem causar ou que cedo ou tarde as pessoas com as quais nos envolvemos irão, no mínimo, nos frustrar ou nos magoar profundamente, não deixamos de fazer ou querer fazer estas coisas, vivemos realmente um dia após o outro.

Talvez seja pelo o prazer fugaz de fazer que fazemos. Mas independente de nossa motivação não adianta chorar o leite derramado, encheu a cara? Ature a dor de cabeça! Amou alguém? Um dia esse alguém irá lhe deixar, nem que seja após a morte [ah sim... todos morrem, seu pai e sua mãe também, então caso os ame, suporte também isso, pois é bem provável q morram antes de você.]. Com drogas talvez ainda seja pior, tem a tal da bad trip que nem espera o dia seguinte.

Mas o fato é que nós não só sabemos que algumas coisas que fazemos nos fazem mal, como também sabemos que às vezes a falta de atitude pode nos causar um mal bem pior, algo cotidiano, a agonia de não se gritar, de ter entalado na garganta aquele grande “foda-se”. Isso sim é assustador. Às vezes nos encontramos em um estado onde tudo que ao nosso redor nos deixam doentes, o trabalho chato, a convivência hipócrita, a falta de diversão, enfim a conveniência de ter uma vida medíocre.

Aí entram em cena o nosso cristianismo as avessas, não fazemos o que queremos, mas sim o que é possível de se fazer. Junto com nosso pudor e nossa virtude vem o peso da renúncia de uma vida sem dor. Nos submetemos a tantas coisas sujas e sem sentido apenas por conveniência que no final das contas perdemos o controle de nossas vontades. A falta de atitude vem da apatia, e nela a apatia é fecunda. Como em uma cultura de bactérias a apatia se multiplica até transformar a vida em pura inércia. [Deixemos a vida nos levar]

Ora, o remorso sempre existirá, a experimentação traz o remorso. O que realmente repudio é o remorso de algo que não se experimentou, a voz rouca incapaz de dizer um simples “foda-se”. [Talvez aprendendo a gritar, você acostume-se com os gritos dos outros.]

Acho que esse tipo de indagação reflete bem a dicotomia em que acredito que muitos, como eu vivem: humildade x orgulho. O orgulho é inimigo do remorso, é consciente e permite que vislumbremos que a dor anda junto com o prazer, são coisas da vida. Sentir dor não é errar, não é ruim, faz parte das variáveis da vida. O doce e o amargo, o quente e o frio, a noite e o dia. Quem foge da noite nunca verá o nascer do sol.

A humildade é covarde, ela faz com que fujamos das mudanças, ela prefere a dor em doses controladas, a dor da apatia. A humildade faz o homem acostumar-se com o açoite. A humildade baseia-se no principio da cega expectativa: atenderei as expectativas dos outros, para todos atenderem minhas expectativas. E sabemos, isso não é verdade.

Para concluir com esse texto absurdamente pretensioso, e pateticamente com reflexões com mais de um século de atraso, duas frases clichês de Nietzsche, que pra mim fazem sentido.

"Que não se venha a cometer nenhuma covardia contra as próprias ações! Que não as abandonemos em seguida! O remorso é indecente."

"O verme se enconcha quando é chutado. Essa é a sua astúcia. Ele diminui com isso a probabilidadede ser novamente chutado. Na língua da moral: humildade."

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Pensamentos profundos [1]

Há momentos na vida que você percebe que a promessa de um mundo amplo cheio de opções é apenas uma farsa. Você percebe que está num caminho sem volta, lhe falta chão, você só tem uma opção para seguir em frente, e por mais que não goste, deve-se fazer o que tem que ser feito.

Essa poderia ser a fala do garçom de onde não tem coca, só pepsi.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Life’s Soundtrack

Ultimamente tenho prestado mais atenção em alguns componentes dos filmes, como jogadas de câmera, iluminação, atuações de atores coadjuvantes dentre outras coisas. Mas uma coisa que sempre me chamou atenção, não só no cinema, mas também em jogos e qualquer outro tipo de obra audiovisual são as trilhas sonoras.

O que seria de Magnólia sem a trilha de Aimee Mann e John Brion? Ou todos esses blockbusters como Star Wars, Jurassic Park e E.T. sem as pomposas trilhas de John Williams? E por último, qual seria a graça de Mario ou Donkey Kong sem os deliciosos temas? Bem, para mim é algo tão importante quanto qualquer cena, imagem ou roteiro. Simplesmente essencial.

Mas o efeito agradável (ou não) das trilhas não para por aí. Imagine agora uma vida sem trilha sonora? Bem, é claro que nós não temos uma trilha sonora propriamente dita, não no sentido físico. Por exemplo: não se toca uma música romântica quando vemos a pessoa que gostamos, ou aquela música de drama quando alguém de nossa família morre, não em tempo real. Mas no final das contas as nossas lembranças são sempre embaladas por trilhas e temas. Não nos damos conta disso no momento em que as coisas acontecem, mas depois, as músicas deixam marcas profundas e são chaves de acesso diretas para nossas memórias.

Não posso generalizar e dizer que funciona assim para todos, pois, talvez a música não seja importante para todos. Mas posso dizer que consigo sentir na pele tudo o que passei apenas ouvindo uma faixa que embalou o momento. Hoje é até engraçado pensar em algumas coisas que musicalmente nem me agradam tanto, mas que têm um significado bastante interessante, acho que dão toda a graça de minhas lembranças. Para dar exemplos bobos, basta lembrar da trilha de TOP GEAR para SNES para qualquer marmanjo que viveu essa época ficar empolgado e competitivo. E para dar um exemplo mais pessoal, foram várias as bandas que tiveram o papel de me causar sensações boas e ruins, e por incrível que pareça esse papel também é variável.

Uma das mais marcantes foi Alice In Chains, na época tinha um amor platônico e ouvia como um adolescente (talvez como UMA adolescente), emocionado. Depois num futuro próximo a este amor platônico, quando ouvia sentia tudo o que sentia anteriormente, mas achando graça, pois o amor platônico se mostrou não tão platônico quanto eu pensava. Mais para frente Beatles alegrava minha vida. Hoje em dia quando ouço me causa uma sensação estranha, pois agora ele embala um momento não tão agradável e me remete a algumas dores crônicas. Isso me faz pensar que a trilha por mais importante que seja, não tem força o suficiente para ter um significado só seu, acaba que os momentos lhe moldam, lhe dão gostos, lhe dão formas.

Para pessoas sinestésicas e empáticas, estas formas musicais podem ser pontiagudas, e o gosto pode ser muito amargo. Acho que em algum lugar da minha memória talvez ainda existam trilhas com perfumes agradáveis, mas as poucas que eu lembro pereceram, como se um espectro negro lhe tivesse roubado toda a luz e leveza. Isso não impede e nem deveria mesmo impedir de ouvir nada que me traga sensações desagradáveis, pois como sempre disse: prefiro sentir dor do que ficar em coma. Mas as vezes a dor é demais, melhor é administrar em pequenas doses diárias.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Enfim uma verdade

Tudo costumava ser tão simples. Tudo costumava ser tão real. Não que agora tudo seja uma farsa, a verdade ainda existe, mas agora não faz mais parte das regras do jogo. Se as pernas da mentira são curtas, as da verdade foram amputadas. A nova regra é a omissão, e o jogo agora é apenas para um jogador. Nada mais é permitido, uma só palavra de ternura, um simples afago ou uma singela, mas palpável declaração do seu sentir. Nada mais é permitido.

E acredite, se a expressão do sentir é proibida, o que se faz não deveria ser mais importante. Porque o fazer é fugaz, pode durar minutos, no máximo horas. Já o sentir, o sentir perdura durante todo o seu dia, por vários dias, anos ou até uma vida. Ele está sempre lá, a espreita, pronto para bater à sua porta, e caso você não o deixe entrar, ele irá irrompê-la, e talvez sua presença lhe cause ainda mais desconforto e horror. Porque pensamos no fugaz fazer? Talvez achemos que ele é a expressão do sentir, mas sinceramente, eles nem sempre estão associados, e como disse apenas o sentir é importante, apenas o sentir é constante, seu companheiro para todos os dias, frios ou quentes, amarelos ou cinzas.

O horror, este também é outro novo participante do cotidiano. Ele é o substituto da fé. Quando se acredita em algo, e simplesmente acredita, sem titubear, sem ao menos se questionar, se tem a fé, quando seu coração se esvazia de fé, este é tomado pelo o horror. O horror entra em cena quando suas certezas não estão mais sozinhas, quando fantasmas as rodeiam durante todo o seu sentir.

A omissão somada do horror causa a perda parcial da esperança, que não precisa ser cega, pode enxergar, mesmo que por águas turvas. Mas vamos por partes, digo parcial porque é claro que ainda resta esperança, porém a água por onde vejo minha esperança não está mais turva, está negra e densa, a esperança não pode ser vista apenas sentida, mas sei que ela existe, onde quer que esteja. A esperança está em algum lugar nos prendendo a este mundo e a estas regras, se não fosse a esperança o que nos seguraria neste jogo? O que nos faria seguir estas regras? Pura covardia? Talvez. Mas prefiro acreditar que há uma esperança, uma vontade adicional de sentir a simplicidade e o conforto que ela pode trazer.

O horror, a tristeza... Estes são componentes da vida, e nós (alguns de nós) temos a vontade violadora de simplificar a vida: Você está triste? Por quê? Dê-me um motivo, eu irei lhe ajudar.

Quem dera se fosse tudo tão simples, temos a inocência de achar que a vida é como uma engrenagem (a clockwork Orange), algo programável e débil. Se há algo errado, troque uma peça, chame um mecânico. Mas as coisas parecem não funcionar assim, por isso buscamos artifícios menos pragmáticos. A arte! A música, a literatura, cinema, as plásticas. Algo que possa servir não como uma porta, mas como uma fenda para nossa alma. Uma fenda estreita que lhe possibilita infinitas visões subjetivas. Isso é ser humano, buscar algo que não tem uma função social, apenas a função de ser real, de ser verdadeiro, de poder se expor sem preocupar com as regras do jogo.

Mas e quando você não consegue sequer abrir um simples buraco de alfinete? E quando sua languidez lhe priva da expressão, a única e derradeira vazão para seus sentimentos. Pois bem, este é o quadro clínico. Acostume-se com ele, pois se posso fazer algo, “acho melhor não”.

Prefiro viver em meio à névoa de um passado saudoso, e sentir, mesmo que de maneira omissa e individualista, a vida, por mais amarga e torpe que esta seja. E de qualquer forma, existem outros jogos a serem jogados, mas em todos eles há ao menos uma regra em comum, a hipocrisia. Talvez tenha escolhido mal os participantes do jogo, mas o que sinto é um imenso vazio, que só não é mais imenso porque é ao mesmo tempo raso, como já disse antes, raso como um pires. E talvez pior que ter que mentir o tempo todo para todos, é ter que mentir o tempo todo para si mesmo, mas essa também é uma regra destes jogos.

Costumam dizer por aí: “Eu não sou audiência para a solidão”, mas esta frase não faz muito sentido para mim. Talvez haja uma vida simples, bonita com caminhos retos e floridos. Mas desta vez prefiro dizer a verdade – este caminho não existe, a felicidade é uma mentira eterna, ou uma verdade efêmera, faça sua escolha. A desilusão é a condição real humana, mas cortar seu pescoço não lhe fará sentir melhor, apenas lhe fará parar de sentir. Se morrer é parar de sentir – “I see dead people... all the time

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Five Years

We've got five years, stuck on my eyes
We've got five years, what a surprise
We've got five years, my brain hurts a lot
We've got five years, that's all we've got

By Bowie

domingo, 18 de janeiro de 2009

Subindo degraus para saltar do alto

Basta observar um pouco para percebermos que quanto maior as expectativas maiores as decepções, não precisa de muito esforço para chegar a esse tipo de conclusão. Porém algo que me intriga é o que nos leva a criar as expectativas, ou porque nos sentimos tão mal quando as coisas não acontecem de acordo com nossos planos.

De qualquer forma, essa parece ser a lógica da vida, criarmos planos para alguns darem certo e outros darem errado, e nesse jogo de expectativas e decepções criamos nossas próprias novelas, e a arte cria seus dramas. Basta assistir um filme, ler um livro ou um quadrinho, ou qualquer coisa que o valha e você perceberá como o narrador cria a intriga, nos leva para o seu mundo, urde o roteiro forçando-nos a criar a expectativa certa (pelo menos essa é a expectativa do autor), no final ele pode atender essa expectativa ou dar uma reviravolta nos chocando e rompendo com nossa expectativa, e é claro, adoramos finais surpreendentes por mais tristes que sejam, todos adoramos uma boa surpresa. Mas também sabemos que é só um filme, e que depois esqueceremos tudo. 

Como estava falando, realmente essa nossa necessidade de criar expectativas me intriga, vou tentar fazer algo diferente nesse post, enumerando os possíveis motivos dessa necessidade e porque algumas soluções se frustram.

1 – O que são expectativas?

No meu ponto de vista são tentativas de por nossa capacidade de previsão em prática. Isso provavelmente acontece por, como Nietzsche afirmou, não sermos animais que esquecem. A nossa experiência vivida faz com que imaginemos que as coisas tendem a se repetir, é assim com um alimento, por exemplo, comemos algo que é horrível e esperamos que toda vez seja assim. É claro que esse é um exemplo demais simplório, mas prefiro usar estes genéricos para tentar não ser tão pessoal, pensem vocês mesmos nos seus exemplos, afinal já estou sendo didático até demais.

1.1 – O que mais nos leva a criar expectativas?

O convívio social faz com que queiramos copiar algumas trajetórias, ou ter a mesma sorte (ou azar) de certas pessoas. Isso é claramente uma generalização, mas somos mesmos generalizantes, não conseguimos pensar nas coisas com clareza sem sistematizar e tentar criar padrões, somos mesmo empíricos, acredito que nossa essência seja moderna e não pós-moderna.

Além disso, existe certa pressão para que seu comportamento seja padrão, as pessoas não esperam que você seja um desviante. Este fator pesa bastante e no final das contas a expectativa alheia acaba lhe obrigando a criar expectativas sobre sua trajetória padrão, suas conquistas devem condizer com o que a sociedade espera e admira.

Enfim, um bom exemplo para isso seria ter um amigo que conseguiu sua licença para dirigir ou passou no vestibular em uma faculdade disputada, a tendência é criarmos expectativas de fazer as mesmas coisas, além disso, esses exemplos são obviamente comportamentos padrões bem vistos pela sociedade o que nos força ainda mais a conseguir alcançar essas metas.

2.2 – O que frustra nossas expectativas?

Metas, isso também é um grande problema, pois parece mesmo fazer parte de nossa essência. Estamos sempre criando planos, não fazemos nada sem um objetivo traçado, somos feitos de segundas intenções, sempre pensando no próximo passo. E como num jogo, quando algo sai errado culpamos a nós mesmos, como se o erro não fosse o acaso e sim uma falha em nosso planejamento.

Acontece que são muitos fatores importantes, coisas acontecendo a todo o tempo, criamos nossos planos como se todos fossem peças de xadrez e como se a vontade dos outros fosse guiada por nossa própria vontade. Agora é que as coisas começam a me dar um nó.

Para ser sincero, sei e você também sabe que as pessoas são bem previsíveis a maior parte do tempo, e por isso acabam por satisfazer nossas expectativas muitas das vezes. Isso se deve aquele fato de seguirmos um comportamento padrão imposto e cobrado pela sociedade. Por outro lado, se não houvesse essa cobrança, e todos fizéssemos o que realmente desejássemos nos nossos anseios mais profundos, iríamos nos frustrar com as outras pessoas com muito mais freqüência, aliás, acho que esse é o pior tipo de frustração, uma vez que o sentimento de impotência, o orgulho ferido e uma série de outros sentimentos nos deixam com sensações físicas bem estranhas. 

Além de nos decepcionarmos freqüentemente por criar expectativas estúpidas, temos o péssimo hábito de criar expectativa nos outros, e fazemos isso intencionalmente. Quando prometemos algo, juramos ou até mesmo combinamos um programa, estamos apenas criando uma expectativa. É claro que isso é útil, uma vez que precisamos de um planejamento dos nossos dias, afinal, como disse, não conseguimos lidar com a imprevisibilidade. Mas acontece que muitas vezes temos que agir diferente do que prometemos, as vezes cedemos aos nossos ímpetos, contrariando as normas sociais e as expectativas das pessoas mais próximas a quem em tese deveríamos algumas explicações.

Bem, tudo isso parece muito confuso e tudo muito óbvio, eu gostaria de dar exemplos mais palpáveis, tenho muitos para dar, mas se eu falasse tudo o que eu penso, estaria rompendo com as expectativas de todos ao meu redor, e por enquanto ainda não estou pronto e nem eles.

Contudo, vejo que a única solução para não nos decepcionarmos é não criando expectativas, porém, isso é impossível (apesar de algumas pessoas dizerem que conseguem não criar expectativas, isso é patético). Inclusive, quando deixamos de ter expectativa com uma pessoa ou coisa em específico, nada mais estamos que prevendo uma possível decepção, estamos com expectativa de decepção. Isso é mentir para si mesmo, é ficar pensando que algo ruim ou chato irá acontecer, para quando sair tudo certo comemorarmos.

Concluindo, todos sabemos de nossas expectativas, e sabemos quando elas são destruídas e o quanto isso nos dói, as vezes só não admitimos para os outros por causa das normas sociais e pelo o orgulho, e não admitimos para nós mesmos porque a verdade é um fardo muito pesado para se carregar. Preferimos a fantasia.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O último tiro

A imagem na retina
o pesadelo impresso
o pulso fica rápido
as forças ficam débeis

a vida passa em sua frente
o suor desce em sua fronte
o óbvio lhe sova a mente
você se afoga num apático cinza

não há como fugir
não há força para lutar
a voz já não pode gritar
nem direito ao choro lhe resta

você se encolhe
como uma minhoca ao ser tocada
você só pensa em pensar
você só quer esquecer

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Parque Industrial Cover

Comedores de ração
animem-se, a glória lhes corteja
"é somente requentar e usar"

Os copistas estão a produzir
As máquinas não podem parar
"Já vem pronto e tabelado"

Não precisa nem pensar
A crítica já vem pronta
Em revistas multi-uso
A consciência encadernada
"É somente folhear e usar"