quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sobre coturnos e pessoas felizes

Hoje finalmente, mesmo que por um pequeno período de tempo, achei uma razão de viver, uma legitima motivação para continuar minha vida. Durante alguns minutos, todos os meus problemas existenciais, ou pelo menos alguns deles perderam importância para eu me focar na dor que um coturno pode causar após algumas horas de caminhada. Durante essas horas criei o ideal romântico de chegar a minha casa e ficar descalço. Porra, como essa merda dói, nessas horas só pensava em tirar as botas, e culpava deus e o diabo por me fazerem ter que andar a pé, que vida de cão.

No caminho fiquei pensando na minha conversa do escritório, como uma pessoa que não faz nada além de comer, trabalhar, cagar e dormir pode ser feliz? Mal remunerados casados com a mesma mulher gorda há anos, comendo a mesma ração diariamente, mas felizes, pois podem tomar sua maldita cerveja no final de semana, e eu aqui com toda essa infelicidade livresca no meu coração.

Mas sempre esquecia desse papo todo e pensava em tirar minhas botas, e pensava, tenho que comprar um veículo, isso de andar não é vida. De vez enquando a dor abrandava e eu voltava a pensar nas pessoas felizes. Numa ruela escura, com nome de travessa sei-lá das quantas havia uma velha pendurando centenas de luzes de natal na sacada, como alguém pode pensar em decoração de natal com tanta merda por aí? Se existe gente que se satisfaz enchendo de penduricalhos a varanda, pode ter mesmo gente feliz nesse mundo.

Chegando em casa vi um monte dessas pessoas felizes num trailer tomando cerveja, todos bem feios, e obviamente suados de um dia de trabalho, mas aparentemente felizes, só sei que entrei em casa, comi um bom pedaço de pudim, e dormi, de botas.